segunda-feira, 11 de junho de 2012

* Ariano Suassuna para Prêmio Nobel de Literatura

O Poeta Flávio Flavio Chaves (Membro da Academia Pernambuca de Letras), enviou esta notícia maravilhosa que faz justiça ao escritor Ariano Suassuna:

PROPOSIÇÃO À ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS

ARIANO SUASSUNA - NOBEL BRASILEIRO

Nós, que fazemos a Academia Pernambucana de Letras, com os seus 111 anos de história, vimos endossar, de público, a proposição do nome do escritor brasileiro Ariano Suassuna, nosso confrade, para disputar a próxima edição do Prêmio Nobel de Literatura, proposição realizada pelo Senador da República Cássio Cunha Lima, na tribuna do Senado Federal.

É difícil externar, em uma simples carta, sucinta por natureza, todos os motivos que nos levam a considerar Ariano Suassuna um inequívoco merecedor desta honraria, reconhecidamente a mais importante concedida a um escritor, em todo o mundo.

Move-nos uma convicção profunda e inabalável de que, em nosso tempo, poucos escritores de língua portuguesa são tão universais como Suassuna. Uma universalidade conseguida através da lição do grande Tolstói: “pinta bem tua aldeia que serás universal”. Engana-se, porém, quem restringe a “aldeia” de Suassuna a Taperoá, município do Sertão da Paraíba onde o escritor passou a sua infância e em torno do qual giram suas histórias e seus personagens; ou mesmo, em outra perspectiva crítica, quem compreende esta “aldeia” como a própria cultura brasileira, em sua enorme diversidade. Taperoá e o Brasil são extensões de um universo mítico-poético cujas origens mais profundas podem ser encontradas na grandiosa tradição mediterrânea, e que se espraiam, a partir da cultura brasileira, por toda a comunidade de língua portuguesa abarcando, assim, todos os povos que formam, na visão do escritor, a “Rainha do Meio-Dia”, em sua dupla conotação, política e religiosa.

A sua obra é composta por poemas, peças de teatro, romances, contos, crônicas e ensaios (transitando, assim, por todos os gêneros literários conhecidos), representa um verdadeiro monumento literário; um “Castelo”, “Marco” ou “Fortaleza” pacientemente erguida ao longo de mais de sessenta anos de constante atividade artística, comprometida, acima de tudo, com o Brasil e o povo brasileiro. É quase meia centena de títulos, sem contar os inumeráveis artigos em periódicos, estudos mais alentados em revistas e plaquetes, discursos, prefácios, capítulos de livros, participações em antologias. Ariano Suassuna é também tradutor, artista plástico, toca instrumentos musicais e é compositor.

Sua peça mais famosa, o Auto da Compadecida (1955), foi objeto de incontáveis encenações em todo o mundo, tendo sido ainda editada em inglês (Estados Unidos), francês, alemão, polonês, espanhol, italiano e bretão; foi, também, objeto de três versões cinematográficas, a última delas, sob a direção de Guel Arraes, tendo se constituído em um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema brasileiro em todos os tempos. O seu Romance d’A Pedra do Reino (1971) foi traduzido e editado na Alemanha e na França, além de ter sido adaptado para o teatro, pelo reconhecido encenador Antunes Filho, e para o cinema, pelo diretor Luís Fernando Carvalho, o mesmo diretor que adaptou para a televisão outras duas peças do autor, Uma mulher vestida de sol (1947) e Farsa da boa preguiça (1960).

Trata-se de uma obra que vem sendo objeto de estudos no Brasil e no exterior, gerando centenas de livros e trabalhos acadêmicos – monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, ensaios e artigos. Sobre ela escreveram, entre tantos outros, o uruguaio Ángel Rama, o português António Quadros, a norte-americana Candace Slater, a francesa Idelette Muzart, o alemão Georg Rudolf Lind, além de críticos de teatro e literatura do Brasil, como Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, Wilson Martins, Bárbara Heliodora ou Antônio Houaiss.

Se o prestigioso Prêmio Nobel leva em conta não apenas um livro específico, mas a obra inteira de um escritor, considerando, aqui, os seus livros, a sua mentalidade, seu estilo pessoal e a repercussão do que escreve, não temos qualquer dúvida em dizer, então, que Ariano Suassuna, membro da Academia Brasileira de Letras, bem como das Academias de Letras dos Estados da Paraíba e desta Academia de Letras de Pernambuco, é mais do que merecedor da honraria, pois Suassuna é de fato um desses escritores raros, conscientes de que escrevem não por ofício ou ânsia de reconhecimento, mas por missão – um desses escritores que são, também, espécies de profetas e porta-vozes, não só do seu povo, mas de toda a humanidade. O Nobel para Ariano é um Nobel para todos nós seus confrades e para o Brasil.

Nenhum escritor brasileiro, até os nossos dias, foi agraciado com o Prêmio Nobel. Muitos certamente o mereceram – um Machado de Assis, uma Clarice Lispector, um Manuel Bandeira, um João Guimarães Rosa, um Carlos Drummond de Andrade, um Jorge Amado, entre outros. O grande pensador espanhol Ortega y Gasset afirmava que um homem é ele mesmo e sua circunstância. Pois bem: não havia, a nosso ver, no caso desses grandes escritores brasileiros, e de tantos outros, a circunstância para o Nobel.

O Brasil de hoje não se encontra mais fechado sobre si mesmo. Cada vez mais a nossa voz soa alto no concerto das nações do mundo. A cultura brasileira, na obra de Suassuna, encontra-se mais do que representada – encontra-se viva, pulsante e forte.

Há, pois, em nosso tempo, obra e circunstância.

Que venha o prêmio. Que venha o Nobel.

Peço dar conhecimento desse apoio, uma vez aprovado pelos ilustres confrades, à Academia Sueca (Svenska Akademien, www.svenskaakademien.se), ao Senador da República Cássio Cunha Lima, ao escritor Ariano Suassuna, à Academia Brasileira de Letras, ao Ministério da Cultura do Brasil, à Exma. Sra. Presidenta Dilma Rousseff, ao Governo do Estado de Pernambuco, na pessoa do Governador Eduardo Campos.

Antônio Campos

Advogado, Escritor, Membro da Academia Pernambucana de Letras.

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