FELIZ ANIVERSÁRIO ASCENSO FERREIRA!
Poeta pernambucano, Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira nasceu na cidade de Palmares no ano de 1895.
Dizem que começou a atividade literária enganado, compondo sonetos, baladas e madrigais.
Depois da "Semana de Arte Moderna" e sob a influência de Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira e de Mário de Andrade, tomou rumos novos e achou um caminho que o conduziria a uma situação de relevo nas letras pernambucanas e nacionais.
Voltou-se para os temas regionais de sua terra que foram reunidos em seus livros "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). Foram publicados postumamente, em 1986, "O Maracatu", "Presépios e Pastoris" e "O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos", em livro organizado por Roberto Benjamin.
Distingue-se não pela quantidade, mas pela qualidade, atingindo não raro efeitos novos, originais, imprevistos, em matéria de humorismo e sátira.
Poema publicado em "Catimbó e Outros Poemas", Editora José Olympio - Rio de Janeiro, 1963, foi extraído do livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 83, organizada por Ítalo Moriconi.
"OS POEMAS DE ASCENSO FERREIRA SÃO VERDADEIRAS RAPSÓDIAS DO NORDESTE"
Na certidão de nascimento, o nome do poeta está grafado como Ascenso Ferreira Carneiro Gonçalves, mas foi como Ascenso que ele se tornou nacionalmente conhecido.
Nascido no município de Palmares, zona da Mata de Pernambuco, a 9 de maio de 1895, filho único do comerciante Antônio Carneiro Torres e da professora Maria Luiza Gonçalves Ferreira.
Órfão aos 13 anos de idade, passa a trabalhar na mercearia de um tio.
Em 1911, publica no jornal A Notícia de Palmares, o seu primeiro poema, "Flor Fenecida".
Em 1917 fundou, com Antonio de Barros Carvalho, Antonio Freire e Artur Griz, entre outros, a sociedade Hora Literária de Palmares.
Em 1922 tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diário de Pernambuco e A Província. Dois anos depois, passou a escrever para os periódicos Mauricéia, Revista do Norte, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade e Revista de Antropofagia.
Em 1925, participa do Movimento Modernista de Pernambuco.
Participou, em 1926, no Recife, do I Congresso Regionalista do Nordeste.
Em 1927, publica seu primeiro livro, "Catimbó". Viaja a vários estados brasileiros para promover recitais.
Em 1934, participa do Congresso Afro-Brasileiro realizado em Recife.
Na década de 1940 realizou conferências e estudos sobre divertimentos populares do Nordeste.
Em 1941, publica o seu segundo livro ("Cana Caiana").
O terceiro livro ("Xenhenhém") está pronto para ser editado, mas só sairia em 1951, incorporado à edição de "Poemas", que foi o primeiro livro surgido no Brasil apresentando disco de poesias recitadas pelo seu autor - a edição continha, ainda, o poema "O Trem de Alagoas", musicado por Villa Lobos.
Em 1955, participa ativamente da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, inclusive participando de comícios no Rio de Janeiro.
Em 1956, é nomeado por JK para a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, no Recife, mas a nomeação é cancelada dez dias depois, porque um grupo de intelectuais recifenses não aceita que o poeta e boêmio irreverente assuma o cargo.
É nomeado, então, assessor do Ministério da Educação e cultura, onde só comparecia para receber o salário.
Em 1963, a Editora José Olympio (RJ) lança "Catimbó e Outros Poemas".
Foram publicados postumamente, em 1986, O Maracatu, Presépios e Pastoris e O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos, em livro organizado por Roberto Benjamin.
A 5 de maio de 1965, morre, no Recife.
Usava sempre um grande chapéu de palha, que era uma verdadeira logomarca.
A poesia de Ascenso Ferreira filia-se à primeira geração do Modernismo. Para Manuel Bandeira, "os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste."
Na certidão de nascimento, o nome do poeta está grafado como Ascenso Ferreira Carneiro Gonçalves, mas foi como Ascenso que ele se tornou nacionalmente conhecido.
Nascido no município de Palmares, zona da Mata de Pernambuco, a 9 de maio de 1895, filho único do comerciante Antônio Carneiro Torres e da professora Maria Luiza Gonçalves Ferreira.
Órfão aos 13 anos de idade, passa a trabalhar na mercearia de um tio.
Em 1911, publica no jornal A Notícia de Palmares, o seu primeiro poema, "Flor Fenecida".
Em 1917 fundou, com Antonio de Barros Carvalho, Antonio Freire e Artur Griz, entre outros, a sociedade Hora Literária de Palmares.
Em 1922 tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diário de Pernambuco e A Província. Dois anos depois, passou a escrever para os periódicos Mauricéia, Revista do Norte, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade e Revista de Antropofagia.
Em 1925, participa do Movimento Modernista de Pernambuco.
Participou, em 1926, no Recife, do I Congresso Regionalista do Nordeste.
Em 1927, publica seu primeiro livro, "Catimbó". Viaja a vários estados brasileiros para promover recitais.
Em 1934, participa do Congresso Afro-Brasileiro realizado em Recife.
Na década de 1940 realizou conferências e estudos sobre divertimentos populares do Nordeste.
Em 1941, publica o seu segundo livro ("Cana Caiana").
O terceiro livro ("Xenhenhém") está pronto para ser editado, mas só sairia em 1951, incorporado à edição de "Poemas", que foi o primeiro livro surgido no Brasil apresentando disco de poesias recitadas pelo seu autor - a edição continha, ainda, o poema "O Trem de Alagoas", musicado por Villa Lobos.
Em 1955, participa ativamente da campanha presidencial de Juscelino Kubitschek, inclusive participando de comícios no Rio de Janeiro.
Em 1956, é nomeado por JK para a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, no Recife, mas a nomeação é cancelada dez dias depois, porque um grupo de intelectuais recifenses não aceita que o poeta e boêmio irreverente assuma o cargo.
É nomeado, então, assessor do Ministério da Educação e cultura, onde só comparecia para receber o salário.
Em 1963, a Editora José Olympio (RJ) lança "Catimbó e Outros Poemas".
Foram publicados postumamente, em 1986, O Maracatu, Presépios e Pastoris e O Bumba-Meu-Boi: Ensaios Folclóricos, em livro organizado por Roberto Benjamin.
A 5 de maio de 1965, morre, no Recife.
Usava sempre um grande chapéu de palha, que era uma verdadeira logomarca.
A poesia de Ascenso Ferreira filia-se à primeira geração do Modernismo. Para Manuel Bandeira, "os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste."
Cronologia
1895 - Nascimento do poeta em Palmares (Pernambuco), a 9 de maio. Filho da professora Maria Luiza Gonçalves Ferreira e do comerciante Antonio Carneiro Torres.
1906/1907 - Curso primário feito em Palmares, onde passou quase toda a infância. Foi menino endiabrado e resistente à cartilha da Professora Maria Luísa, sua mãe.
1908/1910 - Emprego na casa do padrinho Joaquim Ribeiro, armazém "fora de portas", e primeiros contatos com boiadeiros, tangerinos, almocreves, a massa rural, enfim, cujos aspectos de vida se tornariam depois o tema mais forte de sua poesia.
1911 - Agitação política em Pernambuco. Dantas Barreto vem alijar o rosismo e Ascenso fica com os "marretas", designação dos rosistas, numa atitude de gratidão a Gonçalves Ferreira. Ano também da publicação do seu primeiro trabalho literário "Flor Fenecida".
1912/1913 - Primeiros sonetos parnasianos. Divulgação, na imprensa de Palmares e do Recife, de alguns desses sonetos e ainda baladas e madrigais.
1914 - Soneto "Pela Paz" que mereceu referências elogiosas da imprensa e carta do Min. Oliveira Lima.
1915 - Emprego na Prefeitura de Palmares.
1916 - Fundação de uma sociedade literária, com Barros de Carvalho, Fenelon Barreto, Barros Lima, Antônio Freire, Artur Griz e Carlos Rios.
1919 - Vinda para o Recife, a fim de fazer concurso para o Tesouro do Estado.
1921 - Casamento com Maria Stela, a bonita filha do "coronel" Griz, do Tesouro do Estado.
1922 - Conhecimento com Souza Barros na Academia de Comércio. Publicação do soneto "Adeus", "Eu voltarei ao Sol da Primavera". Primeiros encontros com Osório Borba e Benedito Monteiro no "cenáculo" da Lafaiete.
1923/1924 - Encontro com Joaquim Cardozo que, com Benedito Monteiro e Câmara Cascudo, teriam influência na orientação moderna do poeta. Aproximação com Gouveia de Barros e Aníbal Fernandes. Passagem de Guilherme de Almeida pelo Recife, que aprecia os seus trabalhos e o incentiva. Publicação de "Salomé", que o grupo de Joaquim Inojosa aceitou como modernista, mas que ainda era, no entanto, romantismo puro. Declama pela primeira vez, na Faculdade de Direito, poemas modernos.
1926 - Contatos com o Grupo Modernista de Joaquim Inojosa e com o Grupo Independente da Revista do Norte.
1927 - Publicação de Catimbó, pelo Grupo da Revista do Norte, com ilustração de Joaquim Cardozo. Ida de Manuel Bandeira ao Recife, onde travou largos contatos com o poeta.
1928 - Aproximação com Mário de Andrade.
1929 - Primeira viagem ao Rio e São Paulo. Segunda edição de Catimbó.
1930 - Mário de Andrade volta ao Recife, sendo hóspede de Ascenso.
1931 - Reencontro com Luiz Luna, que andou com o poeta por bares e pensões do velho Recife.
1934 - Participação no Congresso Afro-Brasileiro.
1939 - Publicação de Cana Caiana.
1942 - Trabalhos e pesquisas folclóricas estimulados por Souza Barros, para a revista Arquivos, da Prefeitura do Recife.
1946 - Terceira viagem ao Sul, com Lula Cardoso Ayres.
1947/1950 - Alguns poemas novos, refletindo aspectos da Segunda Guerra.
1948 - Nascimento de Maria Luíza, filha do poeta.
1951 - Edição de luxo dos poemas da fase modernista organizada por Souza Barros e incluindo Catimbó, Cana Caiana e Xenhenhém (prefácio de Manuel Bandeira).
1953/1954 - Aparecimento da edição popular (período 1922-1953), também organizada por Souza Barros.
1955 - Publicação (por Souza Barros) do poema "O Poeta Anormal", em folhas soltas. Participação no Congresso de Escritores em Goiânia, onde fez amizade com o poeta Pablo Neruda.
Participa da campanha presidencial de Juscelino Kubitscheck, de quem era amigo particular.
1959 - Publicação do poema "Papai-Noel".
1963 - Edição das Obras Completas, pela Jose Olympio Editora.
1964 - Agrava-se o estado de saúde do poeta, que leva a vida entre o hospital e os cuidados da família.
1965 - Morte do poeta, em 5 de maio.
Um dos poemas mais famosos de Ascenso Ferreira é "Trem de Alagoas". Veja o vídeo com interpretação musical de Inezita Barroso:
TREM DE ALAGOAS
O sino bate,
o condutor apita o apito,
Solta o trem de ferro um grito,
põe-se logo a caminhar... — Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende, vou danado pra Catende com vontade de chegar...
Mergulham mocambos,
nos mangues molhados,
moleques, mulatos,
vêm vê-lo passar. — Adeus! — Adeus!
Mangueiras, coqueiros,
cajueiros em flor,
cajueiros com frutos
já bons de chupar... — Adeus morena do cabelo cacheado!
(...)
Na boca da mata
há furnas incríveis
que em coisas terríveis
nos fazem pensar: — Ali dorme o Pai-da-Mata! — Ali é a casa das caiporas! — Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar...
Meu Deus! Já deixamos
a praia tão longe...
No entanto avistamos
bem perto outro mar...
Danou-se! Se move,
se arqueia, faz onda...
Que nada! É um partido
já bom de cortar... — Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar...
Cana caiana,
cana roxa,
cana fita,
cada qual a mais bonita,
todas boas de chupar... — Adeus morena do cabelo cacheado! — Ali dorme o Pai-da-Mata! — Ali é a casa das caiporas! — Vou danado pra Catende, vou danado pra Catende vou danado pra Catende com vontade de chegar...
ASCENSO FERREIRA
No Programa de Jô Soares, Alceu Valença interpretou o poema OROPA FRANÇA E BAHIA:
OROPA, FRANÇA E BAHIA
(Romance) Para os 3 Manuéis: Manuel Bandeira Manuel de Sousa Barros Manuel Gomes Maranhão
Num sobrado arruinado,
tristonho, mal assombrado,
que dava pros fundos da terra.
("Pra ver marujos,
Tirulilluliu!
quando vão pra guerra...")
E dava fundos pro mar.
("Pra ver marujos,
Tiruliluliu!
ao desembarcar"). ...Morava Manuel Furtado português apatacado, com Maria de Alencar!
Maria era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar... A vida de Manuel, que louco alguém o dizia, era vigiar das janelas toda a noite e todo o dia, as naus que ao longe passavam, de "Oropa, França e Bahia"!
- Me dá¡ uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
- Estás idiota, Maria.
Essas naus foram vintena
que eu herdei de minha tia!
por todo o ouro do mundo
eu jamais as trocaria! Dou-te tudo o que quiseres: Dou-te xale de Tonquim! Dou-te uma saia bordada! Dou-te leques de marfim! Queijos da Serra da Estrela, perfumes de benjoim...
Nada.
A mulata só queria
que Seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a amais pichititinha,
pra ela ir ver essas terras
de "Oropa, França e Bahia"... - Ó Maria, hoje nós temos vinhos da Quinta do Aguirre, umas queijadas de Sintra, só pra tu te distraíre desse pensamento ruim... - Seu Manuel, isso é besteira! Eu prefiro macaxeira com galinha de oxinxim!
"Ó lua que alumiais
esse mundo do meu Deus
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus. "Eu sou mulata dengosa, linda, faceira, mimosa, qual outras brancas não são"... Cantava forte Maria, pisando fubá¡ de milho, lentamente no pilão...
Uma noite de luar
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
- Ah, Seu Manuel, isto chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul. - "Onde vais mulhé?" - "Vou me daná¡ no carrossé! - "Tu não vais, mulhé, mulhé, você não vai lá..."
Maria atirou-se n'água,
Seu Manuel seguiu atrás...
- Quero a mais pichititinha!
- Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido de minha tia!
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"! Nadavam de mar em fora... (Manuel atrás de Maria!) Passou-se uma hora, outra hora, e as naus nenhum atingia... Fez-se um silêncio nas àguas, cadê Manuel e Maria?!
De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"! E as naus de Manuel Furtado, herança de sua tia?
- Continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia! - As eternas Naus do Sonho, de "Oropa, França e Bahia"...
(Ascenso Ferreira)
(Romance) Para os 3 Manuéis: Manuel Bandeira Manuel de Sousa Barros Manuel Gomes Maranhão
Num sobrado arruinado,
tristonho, mal assombrado,
que dava pros fundos da terra.
("Pra ver marujos,
Tirulilluliu!
quando vão pra guerra...")
E dava fundos pro mar.
("Pra ver marujos,
Tiruliluliu!
ao desembarcar"). ...Morava Manuel Furtado português apatacado, com Maria de Alencar!
Maria era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar... A vida de Manuel, que louco alguém o dizia, era vigiar das janelas toda a noite e todo o dia, as naus que ao longe passavam, de "Oropa, França e Bahia"!
- Me dá¡ uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
- Estás idiota, Maria.
Essas naus foram vintena
que eu herdei de minha tia!
por todo o ouro do mundo
eu jamais as trocaria! Dou-te tudo o que quiseres: Dou-te xale de Tonquim! Dou-te uma saia bordada! Dou-te leques de marfim! Queijos da Serra da Estrela, perfumes de benjoim...
Nada.
A mulata só queria
que Seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a amais pichititinha,
pra ela ir ver essas terras
de "Oropa, França e Bahia"... - Ó Maria, hoje nós temos vinhos da Quinta do Aguirre, umas queijadas de Sintra, só pra tu te distraíre desse pensamento ruim... - Seu Manuel, isso é besteira! Eu prefiro macaxeira com galinha de oxinxim!
"Ó lua que alumiais
esse mundo do meu Deus
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus. "Eu sou mulata dengosa, linda, faceira, mimosa, qual outras brancas não são"... Cantava forte Maria, pisando fubá¡ de milho, lentamente no pilão...
Uma noite de luar
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
- Ah, Seu Manuel, isto chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul. - "Onde vais mulhé?" - "Vou me daná¡ no carrossé! - "Tu não vais, mulhé, mulhé, você não vai lá..."
Maria atirou-se n'água,
Seu Manuel seguiu atrás...
- Quero a mais pichititinha!
- Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido de minha tia!
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"! Nadavam de mar em fora... (Manuel atrás de Maria!) Passou-se uma hora, outra hora, e as naus nenhum atingia... Fez-se um silêncio nas àguas, cadê Manuel e Maria?!
De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"! E as naus de Manuel Furtado, herança de sua tia?
- Continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia! - As eternas Naus do Sonho, de "Oropa, França e Bahia"...
(Ascenso Ferreira)
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