Escritores reunidos em "Sarau do Binho" ajudaram a construir parte da história da cultura periférica
Já na quarta-feira, quando foi anunciado o lançamento do livroSarau do Binho, através de um evento criado no Facebook, começou um alvoroço pela periferia. “Você vai?” era a frase dita e escrita nos espaços onde poetas, periféricos e simpatizantes se encontravam – também virtualmente. Diante de tanta expectativa - não foi diferente - o Espaço Clariô, lugar onde a teatro impera, mais uma vez abriu as portas para a poesia mostrar sua face.
Na segunda-feira 8, de fato, o Clariô ficou pequeno para tanta gente que queria viver um dos momentos mais significativos para a cultura da periferia. No lançamento do livro Sarau do Binho havia pessoas de diversas regiões da cidade, mas a maioria era da zona sul, não pela proximidade com o Taboão da Serra, onde aconteceu o lançamento, mas pelo fato de o bar, onde acontecia o sarau, ficar a poucos quilômetros dali.
O livro Sarau do Binho conta com o trabalho de 179 autores. Para reuni-los, Binho diz que o processo foi natural. “A gente foi chamando o pessoal dos movimentos culturais, outros coletivos que trabalham com poesia. A escolha não foi pelo primor da literatura. Tentamos levar para o livro o que realmente acontece no Sarau, a espontaneidade. O leitor vai encontrar poemas com mais rigor (com métrica), e outros versos mais livres.”
Era dessa forma que o sarau acontecia às segundas no bar. O microfone sempre foi aberto. Pouco importava se era a primeira ou a centésima vez que o poeta se portava diante dele; se era graduado ou se lia com dificuldades: o espaço e o respeito era uma prece, com todos.
No ano passado, esse bar que “não queria ser um bar”, foi fechado pela prefeitura municipal de São Paulo, mesmo com o Selo Cultura Viva do governo federal como ponto de cultura; mesmo sendo o espaço de problematização das mazelas sociais, pois ali se discutia “sobre carne, soja, cana, latifúndio, nióbio, pré-sal, agricultura orgânica, agrotóxicos, ditadura, massacre contra os povos guarani-kaiowá”. O bar não aceitou pendurar o cartaz e a faixinha do vereador de plantão. Este sim foi o real motivo de fechamento, não a falta de alvará, como alegado.
O encerramento das atividades no bar não significa parar as atividades com o sarau. Binho relata que “hoje as ações são itinerantes”. “Fazemos na praça do Campo Limpo, no Espaço Clariô, no Cita, no Encena. Notamos que é importante nos fortalecermos.”
Origem. Binho, Robson Padial, é um homem simples em sua essência. Diz sempre ter contato com as letras, mas começou a escrever poesias de 1995 em diante. Alega que foi envolvido pela literatura e os rumos foram se acertando.
Avalia que esse livro vai dar autoestima para o próprio sarau. Binho diz que não pensa muito “pra frente”, mas tem uma visão introspectiva e peculiar do movimento cultural periférico: “A periferia é muito rica culturalmente. Na parte de alimentação, da música, nos versos. A oralidade é muito forte, as rimas, as gírias. Tudo isso faz um caldeirão que é a cultura periférica. O desdobramento é positivo. Acho que vem coisa boa por aí, tem uma efervescência cultural para transformar. A gente não quer fazer arte por fazer, queremos construir coisas. O sarau é uma construção.”
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