quinta-feira, 11 de junho de 2009

* Arraial do Cordel

A LIVRARIA EXPRESSA AGRADECE PENHORADA A OPORTUNIDADE QUE LHE É DADA PELO PROJETO "CORDEL O ANO INTEIRO".
QUE O EXEMPLO SEJA IMITADO PARA QUE OS DIVERSOS PROJETOS COMECEM A CONVERSAR ENTRE SI.
"UM MAIS UM É SEMPRE MAIS QUE DOIS"
- Fernando Brandt
Alberto Oliveira

LANÇAMENTO DO KIT CULTURAL E ECOLÓGICO DA LIVRARIA EXPRESSA
LANÇAMENTO DO CORDEL NO MEIO DO MUNDO (1, 2 e 3) projeto de ALBERTO DE OLIVEIRA RODRIGUES, TAMBÉM INCENTIVADO PELO FUNCULTURA.
LANÇAMENTO DO PROJETO PLANTANDO SEMENTES DA LIVRARIA EXPRESSA & CIA LTDA
http://www.livrariaexpressa.com.br/
alberto@livrariaexpressa.com.br
LITERATURA A PREÇOS POPULARES + ENVELOPE COM SEMENTE. VOCÊ ESTÁ CONVIDADO A PLANTAR ESTA IDÉIA.

terça-feira, 9 de junho de 2009

* Palmares dos Brasões falidos aos alienígenas fraudadores de mitos!


Palmares, Mata Sul Pernambucana.
Início da noite.
Dia quente.
Na janela,
Sentindo o vento,
Vejo gente.
Nada novo diante da minha morada.

Gente que passa para as escolas noturnas.
Gente com pressa para jantar.
Gente com pressa sem ver a gente
Gente tão triste e outra muito contente!
E o vento morno trás o cheiro dessa gente:
Gente com cheiro de banho, perfumada;
Gente com cheiro de labuta, toda suada...
E mesmo sem ver nada de novo diferente,
Sempre surge algo a quebrar a monotonia
Inexistente no todo dinâmico jogo do viver,
Dessa gente teimando em cruel luta para se ter
A básica sobrevivência dessa Mata falida.

E ouço uma voz:
"- Boa noite, seu moço! Pode me dá uma ajuda? Qualquer coisa serve!"
Falo à minha mãe, "um pão, frutas para o camponês aflito!"
E enquanto resolve a esmola, um canto surpreende meu sentido:
"- Lá pros lado de Barreiros,
Lá na Usina Cucau,
O Coronel José Múcio,
Mandou pintar
Todos os caminhão de azul!..."
E com um riso de agradecimento pela comida,
O barbudo trabalhador desempregado continua:
"- Eu que compus esta música. É pra brincar de guerreiro. Eu canto e danço. Gosto muito de brincar de guerreiro. Em todo lugar que tem, eu brinco de guerreiro."
E continuou cantando, enquanto andava:
"- Lá pros lado de Barreiros,
Lá na Usina Cucau,
O Coronel José Múcio,
Mandou pintar
Todos os caminhão de azul!...
Eu gosto de ser guerreiro! Eu Gosto de brincar de guerreiro!"

Onde os Reisados e Guerreiros,
Onde os caboclinhos,
Onde os Maracatús Rurais,
Da Zona da Mata Sul Pernambucana?
Onde as tradições de Palmares,
Antes rica e hoje pobre com tanta cana?

E na cultura, -voz dessa gente,
Há tanta coisa a ver deprimente:
- Os maracatus foram sufocados!
- Os caboclinhos estão acabados!
- Os guerreiros estão esfomeados!
- Os pastoris foram escanteados!
- Os Reisados foram descoroados!

Um camponês dançarino:
Um poeta brincante,
Esmolando, errante,
Com uma família, retrato da fome,
Bem ali, do outro lado da rua onde resido,
Na calçada, perto da esquina da Funerária Humanitária,
Tendo como trilha sonora
O som do apito da Usina Vitória,
Fumegando o lucro do usineiro,
Soprando fuligem nos ares que nos sufoca,
Vomitando vinhoto no Rio Una sofrido.
Ai meu Deus! Tanta coisa sem sentido!
E eu poeta, a soluçar em verso
Pelo que o povo é avesso,
Sem ver o rio que chora cego
Pela vinhaça ou vinhoto;
Sem ver que a Historia é repetida,
Mesmo sendo personagem um outro
Que pintou postes, meios-fios
E canteiros das praças,
Com o mesmo azul de cemitério
Dos caminhões da Usina Cucaú.
Não é brincadeira, falo sério!

O Guerreiro poeta pode ser preso, acusado de bandido
Por estar esfarrapado pelas calçadas.
Mas quem não cuida do meio ambiente, fica impune
E recebe títulos de benfeitor social e é escolhido candidato,
Junto com o outro que é coronelista e truculento de fato,
Aplaudido pelo povo que ele chamou de poeira.
Assim vive toda essa gente sem eira nem beira,
Robotizada pelo marketing depredador do entendimento,
Devido à falta de aculturação e educação;
Vitima de um Sistema cruel, depredador das tradições e patrimônio cultural.
Em nenhum outro lugar do mundo, nunca vi barbaridade e absurdo igual!

Terra de clãs temidos,
Famílias patriarcais.
Monarcas resquícios,
Coronéis de terras hereditárias:
Paranhos, Paiva, Miranda Maciel...
E outros brasões, poucos tantos mais,
Construtores das lendas senhoriais.

Hoje, a queda dos brasões
Cedeu lugar aos emergentes
E clãs formados por outras gentes
Vindas de outras terras agrestes,
Em busca da doçura do açúcar da Mata
E do clima de transição entre litoral e agreste
Para aqui também impor nova Lei inconteste
Sobre povo iludido, submisso da terra ingrata.

Se os Paranhos deixaram a terra e quiseram metrópoles,
Surgiu novo clã de família de camponeses a crescer:
Hoje, os Almeida Melo lideram o Império do Açúcar,
Das estivas dos maiores armazéns e até postos de combustíveis.
A esperteza, supera tradição de intelectualidade em todos os níveis.
Eita! Terra dos Poetas escanteados ou nos auto-exílios!
Do sepultado tradicional Clube Literário, em todo Brasil respeitado;
Hoje, cidade primeiro lugar nas estatísticas de violência do nosso Estado!

Sempre no quadro sócio-político se prova,
Pelo que o mando do poder econômico aprova.
E cada clã enriquecido, entra na luta infame
Da refrega sócio-politiqueira, crescente a cada instante
Pelo poder do mando e da manipulação das massas;
Como gado bovino, levadas ao abatedouro eleitoral.

É terra para gente de outras terras
E apenas poucos filhos dela, nela cresce.
Pela aculturação juvenil não se investe,
Os jovens são atraídos pela migração.
Ignorância leva à auto-punitiva maldição.
Sem espaços para bairrismos,
É um povo cujas esperanças
Não conhece xenofobismos:
Acolhendo, de braços abertos e supervalorizando
Quem aqui chega, com falsas palavras discursando.
Dando grandes espaços para alienígenas,
Fraudadores de mitos e falsas promessas.
E até em Japaranduba, da Família Paranhos,
Uma das terras mais temidas,
Vimos dependências da Rádio Quilombo
Fácil e rapidamente invadidas.
Mostrando que atualmente quem manda
É o clã dos Magalhães Lyra.

Solidariedade deixou de existir,
A não ser para quem a grana suprir
E mandar no ritmo da festa.
Que na rua, só para isso o povo presta
E ainda comemora no Bloco da Poeira,
Por ter sido comparado ao que é sujo,
Nojento e investe em toda porqueira!
Tudo gira em torno dos clãs senhoriais,
Das famílias Magalhães Lyra,
Coutinho e Almeida Melo;
Circulo vicioso, cruel pesadelo!
Cada um defendendo teóricos ideais,
Pelo poder do mando governamental,
Investindo em marketing fenomenal,
Na maquiagem dos nomes dos líderes
Que o povo espera seguir e resolver
Problemas do desemprego e da fome.
Tudo isso, desaculturação é o nome!

Época da volta de truculência coronelista,
Trucidamentos das tradições e do patrimônio cultural.
Poder econômico, a propaganda enganosa,
Falsos discursos prometendo ilusões;
Na usurpação do poder, nepotismo e plutocracia implantada,
Cujas armas é a calúnia,
O vilipêndio e a injúria.
Pisam nas Leis e compram frágeis lideranças
Entregues ao medo e à subordinação.
Não há espaço para quem cria e livre pensa.
E quem teima e a teimosa resistência intenta
É ridicularizado e discriminado
E pela corja servil acusado
De louco ou infame agitador.
E até meu verso de amor
É traduzido como subversor,
Mesmo sem fitas colorizadas
Pelas tendências ou facções partidárias políticas.
Mas vivo livre em consciência fiel às lutas artísticas!
© Jaorish Gomes Teles da Silva
Do livro QUIXOTESCÂNTICO

Palmares, 8 e 9 de março de 2006.
*
Comemorando o 130º Aniversário de Emancipação Política do Município dos Palmares - PE.
*

* Heranças de Rebeldia Quilombola



Quero gritar no meio da Mata,
Quero cantar no meio da praça!
Quero dizer sempre na hora exata
O que meu coração sente forte,
Até chegar o exalar da morte
Que num poeta não é concreto,
Pois a imortalidade em poesia
Faz-me eterno por divina magia.


Com o meu mais ferrenho desejo em verso,
Imprimo, na cega sociedade, minha nobre rebeldia
Herdada de guerreiros quilombolas
Desta terra de índios e negros rebelados;
Poucos citados nas fontes escassas da historiografia.
Sou artista, preciso marcar época e contar.
O que a tradição me repassa, versifico.
Através da Arte, o brado do meu povo é eterno.


Mas meu verso é justo e aqui concretizo
Os porquês de ser por meu povo bem quisto:
Canto embolada, xote, baião coco de roda, Aboio, loas de maracatu e reisado.
Faço se possível a maior presepada,
Mas não deixo minhas raízes culturais,
Nem quero nossa História desprezada,
Nem canto modas colonizadoras banais.

Defendo minha terra palmarina com afinco.
Escute com atenção porque eu não minto:
Sou filho da região onde a cana tombou palmeirais
Que inspiraram os negros rebeldes que unidos aos índios,
Lutaram contra os desmandos colonizadores senhoriais.
Assim foi o Quilombo dos Palmares por quase um Século,
Lugar de igualdade e fraternidade, resistência aos ímpios,
República de rebeldes em meio à Colônia de Monarquias.



Os canhões de Domingos Jorge Velho, derrubaram cercas,
Destruíram muros e vidas dos valorosos quilombolas amotinados.
Um grande crime aos Direitos Humanos, incalculáveis perdas
Num genocídio sem igual contra índios, negros e brancos rebelados.
Mas não conseguiram destruir os herdeiros dos negros enfezados,
Nem calar um ideal de liberdade expresso em canções e danças
Das nossas expressões populares, mantenedoras das esperanças
Do nosso povo brincante, na cultura mais diversificada do mundo.


O território conquistado pelos palmarinos,
Desde o Cabo de Santo Agostinho até o Rio São Francisco
Uma República com senso organizacional nunca antes visto.
Após aquele grande genocídio, as terras foram divididas.
Entre os soldados, burgueses e fidalgos, foram distribuídas.
E minha Cidade, sofreu impasses de comandos de coronéis e barões,
Teve nomes diversos, escolhidos pelos gostos de donos dos brasões,
Ao som dos badalos dos beatíficos sinos.


A Família dos Montes adquiriu a sesmaria
e nomeou o lugar com empáfia: Povoado dos Montes,
num jogo de cintura clerical para não milindrar.
E até para o culto da Santa Virgem Maria
Teve que ser a Nossa Senhora da Conceição dos Montes,
Não pelos montes que circundam o lugar, Mas pela família que ganhou a posse das terras,
Embora a Santa foi cultuada pelos quilombolas.


Há um incidente durante a Revolução Praieira,
Alguns casos engraçados sem eira nem beira,
Da passagem de Pedro Ivo e soldados atolados,
Num lamaçal, onde um corneteiro perdeu uma trombeta.
E o povo rebelde para se ver livre do nome da Família herdeira,
Aproveitou-se do fato e renomeou o povoado de Trombetas.
E sob a inspiração do rio poético, veio o Povoado do Una,
Em pleno surgimento do Clube Literário de marca profunda.

Tem a fase do implante do Escritório da Great Western,
Pelos idos de oitocentos e sessenta e dois, do for all
Entendido por forró pelos matutos cabras da peste.
Aqui ficou implantada a Estação Ferroviária do Una
Que prenunciava um movimento de revolta geral,
Instigada pelos poetas organizados, rebelados, em suma,
Chegando a conseguir o Distrito em oitocentos e sessenta e oito,
Mas os moradores do Vale do Una tinha algo muito mais afoito.

Lideranças queriam mais, e em oitocentos e setente e três,

sendo quinze anos antes da Abolição da Escravatura,

o nome proibido dos Palmares foi defendido mais uma vez

e foi criado o Município Autônomo dos Palmares.
Eis que a História é reconquistada com grande ventura.
Mas somente após seis anos de lutas dos escritores,
Aos nove de junho, em oitocentos e setente e nove,
Palmares foi Município emancipado, com foros de Cidade.



Em minhas veias circulam heranças de Cultura e Grandeza,
E como cantador e poeta, mato a cobra e mostro o pau,
Me arreto, dou cambalhotas, gingo capoeira e viro a mesa
Mas não arredo o pé do meu lugar, eu luto por minha terra
Como os poetas lutaram pelo nome da Cidade ser honrado
Novamente com o nome batizado pelo africano amotinado
e hoje ser conhecida como a tradicional Terra dos Poetas.
Palmares, eu te amo pelo valor cultural e lutas que encerras.


Palmares, 11 de agosto de 2005.
© Jaorish Gomes Teles da Silva



Do livro QUIXOTESCÂNTICO
*

Comemorando o 130º Aniversário de Emancipação Política do Município dos Palmares - PE.
Bandeira Municipal dos Palmares
Escudo de Armas do Município dos Palmares (autor: Telles Júnior)
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