domingo, 9 de setembro de 2012

* Quando o filme é melhor que o livro

Cinema x Literatura »
 
Em agosto, completaram-se 10 anos do lançamento de um marco do cinema brasileiro: o longa-metragem Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles, com roteiro de Braulio Mantovani inspirado no romance homônimo de Paulo Lins. Em março, outra data celebrada foram os 40 anos da estreia do clássico norte-americano O poderoso chefão (The godfather), escrito e dirigido por Francis Ford Coppola com base no livro homônimo de Mario Puzo. Os dois filmes, apesar das muitas diferenças entre si, guardam algumas semelhanças que, se não explicam totalmente o sucesso que obtiveram mundo afora, apontam decisões que foram imprescindíveis para que ambos alcançassem tamanho êxito. Pensar essas escolhas talvez ajude a apreciá-los melhor, bem como o trabalho de seus realizadores.

É sabido que tanto Paulo Lins quanto Mario Puzo escreveram os respectivos romances a partir das próprias experiências, mesmo sem terem feito parte propriamente falando do que retrataram, como traficante no caso brasileiro e como mafioso no caso americano. Paulo Lins (1958), de um lado, morador da Cidade de Deus, cresceu com a deterioração do conjunto habitacional projetado nos anos 1960 para os flagelados das enchentes nas favelas cariocas. O ítalo-americano Mario Puzo (1920-1999), do outro lado, filho de imigrantes italianos estabelecidos em área pobre de Nova York, dedicou-se ao estudo da máfia e de seus costumes, matéria-prima de seus livros – inclusive, claro, O poderoso chefão.

Nas duas situações, portanto, submundos pouco conhecidos em seus meandros pelo grande público são desvendados por autores inseridos naquela realidade, ainda que não tenham participado dela diretamente. Com isso, a aproximação dos diretores com o universo que levaram às telas é mediado pelo romance desses escritores, o que estabelece um certo distanciamento. Minimizá-lo para o público foi um dos desafios nos dois projetos. Não por acaso, em Cidade de Deus optou-se por elenco com predominância de atores amadores, oriundos de favelas cariocas. Em O poderoso chefão algo semelhante aconteceu, porém de maneira mais sutil: o diretor e os atores principais, Marlon Brando e Al Pacino, são ítalo-americanos, assim como outras figuras secundárias da equipe.

Nos dois casos, contudo, havia outra dificuldade ainda maior que aproximar o público daquelas histórias: era necessário condensá-las para duas, três horas de filme. E neste ponto as escolhas dos roteiristas são brilhantes. O romance Cidade de Deus narra a trajetória de três décadas do conjunto habitacional, dos anos 1960 até os anos 1980, com centenas de personagens e episódios isolados. Selecionar os mais relevantes e, muitas vezes, fundir duas, três figuras ou situações do livro em uma do filme foi um recurso bem utilizado por Braulio Mantovani, dando ao longa-metragem uma coesão que o próprio livro não tem, excessivamente fragmentado em muitos pontos. Talvez por conta disso, trocou-se nas telas inclusive o nome dos personagens, em claro indicativo da transposição de literatura a cinema. No romance, Tutuca, Inferninho e Martelo; no filme, Alicate, Cabeleira e Marreco. No primeiro, Inho e Zé Miúdo; no segundo, Dadinho e Zé Pequeno. Pardalzinho e Zé Bonito; Bené e Mané Galinha. E assim por diante.

Sem ter fundido os personagens como fez Braulio Mantovani, Francis Ford Coppola superou o desafio de resumir para as telas a história dos Corleones descartando o que não fosse absolutamente imprescindível ao enredo e aglutinando situações ou histórias esparsas ou muito extensas no livro. E nenhuma sequência do longa-metragem representa isso tão bem quanto o assassinato dos chefes das outras famílias, durante o batizado do afilhado de Michael Corleone. Tendo sido detalhada cada uma das mortes em muitas páginas do livro, Coppola juntou-as em poucos minutos do filme, dando maior senso de unidade ao plano arquitetado por Michael. Com o famoso som do órgão ao fundo, ganhou-se ainda em dramaticidade.

Em Cidade de Deus, a mesma estratégia é empregada por Mantovani/Meirelles, por exemplo, para apresentar a boca dos Apês – que Zé Pequeno toma de Neguinho, num dos momentos mais marcantes do filme. Em menos de três minutos, consegue-se contar como a boca passou de dona Zélia para o Grande, deste para o gerente Sandro Cenoura e, finalmente, para Neguinho. Para explicar rapidamente a estrutura do tráfico, desde o embrulho das drogas até o papel dos vários “funcionários” do negócio, usou-se o mesmo recurso.

Outra semelhança entre os dois roteiros/filmes é a construção do próprio enredo, com tempo narrativo diferente do elaborado pelos romancistas. O livro Cidade de Deus é dividido em três partes: 1- A história de Inferninho; 2- A história de Pardalzinho; 3- A história de Zé Miúdo. Já o filme une essas três partes em uma só trama, com o uso frequente de flashbacks e, especialmente interessante, apresentando-se a mesma cena de dois, três pontos de vista. Aqui novamente, o exemplo mais significativo é o da tomada da boca do Neguinho, fato visto da perspectiva de Busca-Pé, de Neguinho e de Zé Pequeno.

Já o filme O poderoso chefão narra a história de modo linear, na ordem começo, meio e fim. Porém, também se diferencia da narrativa do livro em vários momentos. A famosa cena de abertura, por exemplo, consta bem à frente no romance. Uma maneira primorosa que Francis Ford Coppola encontrou de iniciar um filme sobre imigrantes italianos em busca do sonho americano: “Eu acredito na América”, diz Bonasera a Don Corleone, antes mesmo de a imagem aparecer. Na verdade, toda a cena do casamento serve de prólogo à saga dos Corleones, apresentando cada um dos personagens centrais. Outra decisão acertada do diretor/roteirista.

Narradores - Uma diferença marcante entre os dois filmes, no entanto, deve ser analisada: a presença de um narrador em Cidade de Deus, recurso dispensado em O poderoso chefão. É comum haver um narrado em off em filmes baseados em livros, geralmente com resultados pífios. Algo quase tão ruim como teatro filmado. Braulio Mantovani, contudo, dribla bem a situação dando peso ao narrador-personagem Busca-Pé, figura secundária no livro, mas que nas telas é o antagonista de Zé Pequeno, com quem o espectador não se identifica, o que o aproxima de Busca-Pé. Com isso, um elemento que possivelmente poria o projeto a perder se tornou um de seus aspectos mais expressivos. Não à toa, logo na abertura, o clique da máquina fotográfica do narrador-personagem “puxa” o título do filme à tela, indicando sob qual ponto de vista a história é contada.

Os dois projetos também se distanciam numa questão curiosa: em Cidade de Deus, o roteiro é assinado exclusivamente por Braulio Mantovani, apesar de muitas contribuições do diretor Fernando Meirelles e da codiretora Katia Lund, que chegou a pleitear na Justiça um crédito maior no filme e teria pedido para também assinar o roteiro, segundo Mantovani em entrevista recente. Já em O poderoso chefão, o roteiro é assinado por Francis Ford Coppola e por Mario Puzo, ainda que Coppola deixe escapar vez ou outra que a principal contribuição de Puzo foi como uma espécie de supervisor do texto, cortando uma ou outra palavra ou trocando-a por alguma mais própria ao vocabulário mafioso, por exemplo.

Isso, porém, não impediu o diretor de dar o primeiro crédito no filme justamente ao autor, com o título Mario Puzo’s The godfather. Em outros projetos, Coppola repetiria o gesto, como em Bram Stoker’s Dracula e John Grisham’s The rainmaker (O homem que fazia chover). Tamanho respeito pelos autores fez com que Coppola assinasse sua primeira história apenas em 2009, com o filme Tetro (Francis Ford Coppola’s Tetro, lê-se na abertura), mesmo que em O poderoso chefão – parte 2, por exemplo, tenha elaborado toda a trama de Michael Corleone (a ascensão do jovem Vito Corleone, interpretado por Robert De Niro, é baseada no romance) e em O poderoso chefão – parte 3 seja no mínimo coautor.

Na verdade, vendo os três filmes da família Corleone como um conjunto, emerge mais claramente a visão do próprio Coppola, mesmo que baseada no livro de Puzo e valendo-se de sua contribuição nos roteiros. Na parte 1, os Corleones são mafiosos com influência em Nova York, basicamente; na parte 2, com a expansão dos negócios aos cassinos o contato com setores mais altos de poder se estreita, chegando ao ápice na parte 3, com as negociatas multimilionárias com aquela que talvez seja a instituição mais poderosa do Ocidente no último milênio: a Igreja Católica. Sob essa perspectiva, o Coppola autor ganha nítida dimensão, ainda mais em suas declarações sobre como não pôde desenvolver como queria o último roteiro da trilogia, pressionado pelos executivos do estúdio a lançar o filme no fim de 1990, apesar de ter pedido ao menos mais seis meses para aprimorá-lo.

À parte a questão da parceria Coppola/Puzo, os 40 anos da estreia de O poderoso chefão suscitam uma análise sobre como o tempo depurou as duas obras: livro e filme. A leitura do romance de Mario Puzo hoje, obviamente, não pode ser feita descolada da adaptação ao cinema, mas a despeito disso é inegável se tratar de romance menor, talvez já esquecido não fosse a trilogia, mesmo tendo sido um best-seller no começo dos anos 1970. O filme, por sua vez, ganha admiradores a cada geração, permanecendo uma grande influência cultural – até mesmo pop – mundo afora.

Apesar de obras mais recentes, já é possível fazer também o comparativo entre o livro Cidade de Deus, com 15 anos de publicação, e o filme que inspirou, com 10 anos de estreia. Neste caso mais uma vez é impossível dissociar a leitura do romance da versão cinematográfica. E, igualmente deixando esse fato à parte, novamente as limitações do texto literário parecem claras, sobretudo pela fragmentação narrativa, com alguns recortes de histórias reais mal costurados, excessivamente tangentes à trama principal. Como Mario Puzo, porém, Paulo Lins terá sempre o crédito de ter descortinado aos leitores uma realidade que de outra forma permaneceria alheia aos que não a vivenciaram. E isso Fernando Meirelles e Francis Ford Coppola traduziram com maestria para as telas. 


Fonte:
Portal Uai - Associados
Publicação: 08/09/2012 19:52
 

* "Passagens" conta história da literatura judaico-alemã nos séculos 19 e 20

Em seu livro "Passagens: literatura judaico-alemã entre gueto e metrópole", o escritor Luis S. Krausz abora a importância da língua alemã para o desenvolvimento da literatura judaica moderna.
O encontro da modernidade com um sistema de crença estabelecido durante a Idade Média é o tema central de Passagens: literatura judaico-alemã entre gueto e metrópole, de Luis S. Krausz. Analisando uma série de romances do século 19 e 20, de autores como Arthur Schnitzler, Aaron Bernstein e Heinrich Heine, o livro aborda como eles influenciaram o pensamento moderno entre os judeus na Europa Oriental.
Tradição e crença se chocaram com novas ideias, com transformações políticas e econômicas. Esse choque entre o tradicional e o novo ocorreu quase simultaneamente com o fato de grande parte dos judeus se tornar cidadãos de Estados nacionais, cuja base não era a religião e sim os conceitos iluministas de direitos humanos. Essa revisão de parâmetros trouxe reflexões não somente sobre aquele grupo, mas também sobre as sociedades em que viviam.

O resultado é uma literatura onde há uma duplicidade de olhar desse mundo em transição e os autores de língua alemã foram os primeiros expoentes dessa nova literatura. Dessa duplicidade nasceram o conflito, a reflexão e a idealização que confrontaram a modernidade com a nostalgia, o fantástico e a superstição.
O conflito é a base dos romance abordados em Passagens. Autores como Elias Canetti, Alfred Döblin e Joseph Roth tentaram mapear as representações do tradicionalismo no imaginário moderno e as transformações do tempo. Em conversa com a DW Brasil, o escritor Luis S. Krausz falou da importância da língua alemã para essas mudanças. 

DW Brasil: Como foi o processo de escrever Passagens: literatura judaico-alemã entre gueto e metrópole?

Luis S. Krausz: Este trabalho foi uma decorrência de um livro anterior sobre Joseph Roth, que discute em sua obra dois temas complementares: de um lado, a sólida monarquia dos Habsburgos, que representa valores verticais e transcendentes; de outro, o universo declinante das aldeias judaicas da Europa Oriental, destruídas pelo avanço da sociedade moderna e pelos massacres perpetrados a partir do fim do século 19. Ele olha em retrospecto para estes dois mundos, que foram destruídos com a Primeira Guerra Mundial.

Depois de estudar a obra de Roth, quis entender melhor as relações entre o universo da tradição judaica, de raiz medieval, e a cultura alemã do século 19. A Prússia e o Império Austro-Húngaro dominaram, durante todo o século 19, uma porção significativa da Europa Oriental. Nestas regiões havia uma população judaica numerosa que foi se integrando, gradativamente, à cultura alemã.
O Imperador José 2° da Áustria antecipou-se até mesmo à Revolução Francesa, ao promulgar, já em 1782, o chamado “Édito de Tolerância”, que tornava os judeus cidadãos de seu império. A cultura alemã tornou-se sinônimo de integração à modernidade, e símbolo de uma nova posição social para um grupo antes mantido às margens da sociedade.

Qual foi o critério para escolher os romances abordados em seu livro?

A literatura judaica em língua alemã é extremamente prolífica. Abordei uma pequena parcela e as escolhas que fiz foi resultado de indicações, do meu gosto pessoal – e também do acaso. Descobri, por exemplo, na biblioteca da casa de meus avós, um raríssimo exemplar de um livro intitulado Ein Jude, do escritor dinamarquês Aron Goldschmidt, de quem nunca tinha visto nenhuma referência.
Goldschmidt viveu no início do século 19 e foi um autor muito popular em seu tempo, e esse romance, no qual ele retrata a trajetória de uma família judaica do norte da Alemanha que parte de um vilarejo para integrar-se à vida moderna em Copenhague, aborda de forma direta e exaustiva o tema da minha pesquisa, ou seja, os conflitos e as perplexidades decorrentes do confronto entre o universo fechado da tradição judaica e as promessas grandiloquentes da modernidade oitocentista. 

A língua alemã funcionou como ponte entre a Europa Ocidental e Oriental? 

Entre o fim do século 18 e o século 19, uma população judaica numerosa foi incorporada à Prússia, ao Império Austro-Húngaro e à Polônia. Neste contexto, a língua alemã funcionava como um passaporte para a modernidade, um atalho que levava da Idade Média diretamente ao século 19.

Qual foi o critério para escolher os romances abordados em seu livro?

A literatura judaica em língua alemã é extremamente prolífica. Abordei uma pequena parcela e as escolhas que fiz foi resultado de indicações, do meu gosto pessoal – e também do acaso. Descobri, por exemplo, na biblioteca da casa de meus avós, um raríssimo exemplar de um livro intitulado Ein Jude, do escritor dinamarquês Aron Goldschmidt, de quem nunca tinha visto nenhuma referência.
Goldschmidt viveu no início do século 19 e foi um autor muito popular em seu tempo, e esse romance, no qual ele retrata a trajetória de uma família judaica do norte da Alemanha que parte de um vilarejo para integrar-se à vida moderna em Copenhague, aborda de forma direta e exaustiva o tema da minha pesquisa, ou seja, os conflitos e as perplexidades decorrentes do confronto entre o universo fechado da tradição judaica e as promessas grandiloquentes da modernidade oitocentista. 

A língua alemã funcionou como ponte entre a Europa Ocidental e Oriental? 

Entre o fim do século 18 e o século 19, uma população judaica numerosa foi incorporada à Prússia, ao Império Austro-Húngaro e à Polônia. Neste contexto, a língua alemã funcionava como um passaporte para a modernidade, um atalho que levava da Idade Média diretamente ao século 19.

Ao mesmo tempo em muitas cidades alemãs ocidentais, como em Frankfurt, por exemplo, os judeus já viviam há séculos, mas em bairros separados, chamados de guetos. Com a chegada das tropas de Napoleão Bonaparte, arrancaram-se as grades e os muros que mantinham os judeus separados dos cristãos. E também é preciso lembrar que o iídiche, falado pelos judeus na Europa Oriental, é baseado no alemão medieval, que os antepassados levaram quando foram expulsos da Alemanha para a Polônia, na Idade Média.

A filosofia também teve um papel importante nessas mudanças? 

Acredito que a literatura tenha funcionado, para uma população que se encontrava em meio a um processo de transformação radical de suas condições de vida, como um espaço de representação e de discussão das grandes questões decorrentes da mudança dos guetos e dos vilarejos para as metrópoles. A grande criatividade literária que se observa no mundo judaico de língua alemã do século 19 e do início do século 20 decorre das múltiplas perplexidades geradas por esta passagem.
Ao mesmo tempo, os leitores buscavam, em contos, novelas e romances, representações literárias de sua situação paradoxal – e talvez também respostas para questões que os atormentavam. Assim, creio que a literatura tenha sido mais importante do que a filosofia neste sentido, pois a filosofia necessariamente dirige-se a uma minoria de eruditos, enquanto a literatura tem um espectro de leitores bem mais amplo – e consequentemente exerce uma influência social maior e mais imediata.

A popularização do livro está diretamente atrelada a esse processo?

Sem dúvida, o livro foi o instrumento por excelência para a divulgação de um ideário moderno baseado nos princípios iluministas entre os judeus da Europa Oriental, que viviam sob o signo de crenças religiosas cristalizadas durante a Idade Média. 

Como é hoje a relação entre a cultura judaica e da língua alemã?

Hoje, na Alemanha, vive uma comunidade judaica bastante numerosa. Porém, sua origem é, na grande maioria dos casos, a antiga União Soviética. Este grupo tem uma história e uma cultura que são totalmente diferentes dos judeus alemães e austríacos de antes do Holocausto, que viviam uma espécie de simbiose cultural judaico-alemã. 

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Carlos Albuquerque


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* Literatura: auto-ajuda e psicololgia aplicada

(Alain Botton, o Filósofo Pop)

Nas décadas de 70 e 80 os livros de auto-ajuda inundaram o Brasil e o mundo, com receitas mirabolantes de enriquecimento fácil, busca da felicidade, conquista de amor impossível e tantos outros assuntos inerentes ao comportamento humano.
Quem não se lembra do médico Lair Ribeiro, que lotava ginásio, teatros e centro de convenções com suas palestras motivacionais?
Do ex-produtor de TV Neimar de Barros, que se dizia um ateu convertido ao cristianismo e que passou ser um arauto da fé?
Publicou várias livros sobre religião, deu palestras em mais de 4.000 cidades e chegou a ser capa da Revista Família Cristã, a maior publicação católica do Brasil.
Nemar, em 1986, concedeu uma entrevista à revista Veja e contou que a sua conversão teria sido uma tremenda farsa.
Por conta de episódios como este e considerando que ninguém enriquecia com a facilidade apregoada e que a felicidade nem sempre chegava na hora esperada, esse tipo de literatura entrou em colapso, chegando a ensejar que críticos literários classificassem como medíocres os leitores desse tipo de publicação.
O best-seller brasileiro Augusto Cury, aborrecido, apressa-se em afirmar que as suas obras não são de auto ajuda e sim de “psicologia aplicada”. Mera questão de semântica.
Eis que de repente surge o salvador desse segmento literário, dantes tão festejado.
Trata-se do jovem filósofo suíço Alain de Botton, 43, que se apresenta como um fenômeno da filosofia contemporânea, com inúmeros livros publicados. Fenômeno de vendas e crítica.
Botton não se envergonha em afirmar que os seus textos são de auto-ajuda, sim, baseados na sabedoria dos antigo filósofos, detentores de profundos conhecimentos das relações humanas.
O seu projeto mais ousado consiste no lançamento da coleção The School of Life (A Escola da Vida) a ser publicada brevemente no Brasil, título de uma escola que fundou na cidade de Londres, em 2008, hoje referência mundial de eventos comportamentais.
Para Botton o que houve de negativo foi uma enxurrada de maus autores do ramo, especialmente os americanos e o surgimento de um contingente de palestrantes chalatõees, pondo em xeque a credibilidade da literatura em foco.

(Texto publicado no Boletim Institucional da Academia Piauiense de Mestres Maçons nº 4, de 05.09.12).

* 'Novos executivos deveriam ler O Príncipe'

 
CLÁUDIO MARQUES - O Estado de S.Paulo
 
Com experiência consistente no desenvolvimento de negócios para os setores de serviços financeiros e de meios de pagamento, Elvis Tinti acaba de assumir, aos 32 anos de idade, o cargo de CEO da Peela, empresa de soluções em meios de pagamentos pré-pagos. Antes de enveredar pelo estudo da economia e pelos caminhos corporativos, Tinti se formou em letras impulsionado pelo gosto por literatura inglesa. Agora, depois de ter passado por empresas como Grupo Linx, GetNet Tecnologia em Meios de Pagamento, Check Express e Nossa Caixa, ele se considera um gestor arrojado e pragmático. E recomenda a quem esteja começando na carreira de executivo que leia "O Príncipe", de Maquiavel, obra que contribuiu para a criação do conceito de Estado. A seguir, trechos da entrevista. 

Por que você acha que foi chamado para este cargo?

Eu participei do processo introdutório de alguns produtos que têm bastante semelhança com esse que comercializamos aqui - que é o gift card (um cartão de crédito pré-pago muito usado no exterior para presentear pessoas). A recarga de celular, por exemplo, é um produto que tem uma equivalência grande, por ser um pré-pago de alto volume financeiro comercializado no varejo. Participei da introdução desse produto no mercado com as operadoras, por intermédio das empresas pelas quais eu passei. E, além disso, eu venho de um mercado de meio de pagamento, de cartões convencionais, crédito, débito. Essa experiência de varejo versus conceito novo de produto pré-pago foi o que gerou a expertise necessária. Também pesou todo o aspecto estratégico que eu coordenei dentro de todas essas empresas pelas quais passei e que fizeram essa oportunidade aparecer e se concretizar. 

Qual é o seu desafio agora?

Eu tenho um desafio de rapidamente assumir uma nova função e uma nova postura dentro da empresa. Eu saí de uma situação na qual eu era demandado para uma na qual eu demando. E, ao mesmo tempo, eu tenho o desafio de ser visto como CEO, ter postura e ter uma apresentação diferenciada para eu me qualificar como CEO, para ter cada vez mais essa cadeira bem ocupada. O que eu vejo hoje é que as empresas vêm mudando, as hierarquias estão se achatando, principalmente na área de internet, exigindo que cada vez mais o CEO seja participativo, tanto na estratégia quanto na atuação do dia a dia, e a troca de ideias e a consolidação da posição se dá pelo resultado que a companhia gera. Naturalmente que cada um, como no futebol, ocupa uma posição no time, e o CEO, como técnico, tem a obrigação de coordenar bem esse grupo para poder vencer a batalha. 

Qual foi uma decisão marcante em sua carreira?

Num dado momento, eu peitei um projeto dentro de uma empresa em que eu trabalhava. Em uma negociação com um grande varejista, eu propus um modelo de negócio muito forte, pelo qual conseguimos estruturar uma oferta diferenciada praticando um preço abaixo do meu concorrente. Naquele momento, com a decisão de fazer uma proposta arrojada e de não ir para uma guerra de preços com o meu concorrente, corríamos o risco de perder uma operação de milhões de reais. E eu consegui fechar com o cliente, manter o cliente. Acho que minha postura foi fundamental para o fechamento daquele contrato, mesmo praticando um preço inferior, justamente porque eu consegui inovar na minha oferta, colocando uma outra forma de trabalho com aquele determinado produto. Acho que foi um momento marcante. 

Por que?

Porque dependeu muito da minha capacidade criativa de pensar um modelo de negócio diferente para um produto que era exatamente uma commodity, um produto igual, e conseguimos fechar o negócio simplesmente alterando o modelo de negócio. 

Ficou mais confiante?

Sem dúvida nenhuma. Fiquei bastante confiante. Era um momento em que havia uma guerra muito forte no mercado. Recarga de celular é um produto que não deixa de ser uma commodity. E trabalha-se com taxas, as operadoras pagam um determinado porcentual em cima do produto que você vende. Naquele momento, comecei a sentir que tinha um concorrente muito grande que foi para a guerra de preço, porque a estratégia dele era matar os adversários. Ele estava tentando conquistar a conta que garantia a nossa operação na época. Eu pensei que poderia perder aquela conta e se a perdesse seria uma derrocada, porque todas as outras contas veriam uma empresa perdendo um cliente para um concorrente e poderiam ir atrás dessa empresa. E no momento em que eu consegui vencer essa concorrência, sem dúvida nenhuma, a confiança que eu obtive a partir daí me ajudou a fazer crescer a receita da empresa e garantir a operação.
Você se formou em economia?
Meu primeiro curso foi letras. Fiz porque estava cursando inglês e me interessei por literatura inglesa. Fiz até o momento em que enxergasse qual curso eu efetivamente gostaria de seguir. Então, eu me formei em letras, no começo de 2001, depois fiz economia, me formando em 2006, e fiz um MBA que concluí em 2011 em gestão estratégica de negócios pela Fundação Getúlio Vargas. Economia eu cursei na Fundação Santo André. 

Quais são os planos no novo cargo?

O plano especial é consolidar a marca Peela no mercado e permitir uma expansão muito rápida do nosso produto em todo o mercado brasileiro, seja através do varejo, do canal web ou do canal corporativo. Trabalhamos com um produto só, o gift card. Temos o compromisso de chegar a números bastante audaciosos no período de três anos. Nossa intenção é emitir mais de 1 milhão de cartões no período de um ano. O gift card é bastante consolidado nos Estados Unidos, mas no Brasil é um produto que ainda vem aparecendo. Tem um potencial de crescimento absurdo. 

Para dar conta de tudo isso, você acha que é arrojado?

Eu sou bastante arrojado. Meu perfil de vendas é bastante agressivo, o foco é no resultado. Então, a ideia é manter os pés no chão, a cabeça pode até estar no ar, mas os pés tem de estar no chão. E foco no resultado, foco em vender o produto que temos na prateleira, o foco é na escala. Então, o meu perfil é de fazer resultado, é gestão. Eu acredito não ser visionário naquilo que pode tirar o foco. Meu perfil é bastante pragmático. Eu acredito naquilo que o modelo de negócio comprova. Uma vez que foi criado um produto, que esse produto já tem venda, existe gente comprando, já tem preço e margem definidos, já existe previsão de rentabilidade, então é replicar esse modelo o máximo possível dos dois lados. Isto é, trazer, de um lado, uma prateleira de produtos bastante aderente e de alta relevância, e do outro lado, criar o maior número de canais de distribuição para poder distribuir esse produto. Então, o meu perfil é arrojado em cima daquilo que é voltado para o produto core. E sou uma pessoa agressiva em resultado.

Com quem você se identifica na literatura?

Gosto de Marcel Proust, porque ele relata muito bem o sentimento e os momentos da vida, consegue falar do sentimento, das sensações humanas, em qualquer tempo. É uma literatura transcendental. E gosto muito de Franz Kafka também.
Que livro de literatura você recomenda para quem está começando a carreira de executivo?
Olha, eu vou falar, eu posso até ser piegas, mas se tem um livro que eu gostei muito foi "O Príncipe", de Maquiavel. Acho que para quem quer, realmente, seguir uma carreira profissional, política, pública, privada, enfim, esse livro consegue ser muito atual. O autor tem uma literatura muito real para aquilo que as pessoas tem de entender e saber que elas vão viver normalmente em qualquer situação de relacionamento.

Você acha que isso o ajudou a ser pragmático?
Sim, sem dúvida nenhuma.

* Concurso literário CIEE-ABL

Até 30 de novembro ficarão abertas as inscrições para o 14º Prêmio Literário Escritor Universitário "Alceu Amoroso Lima" (Tristão de Ataíde), promovido pelo CIEE em parceria com a Academia Brasileira de Letras (ABL). Os trabalhos sobre o tema Por que a literatura de Jorge Amado faz sucesso também na televisão? devem ser enviados para a sede do CIEE, em São Paulo, Os três primeiros colocados receberão prêmios de R$ 6 mil, R$ 4 mil e R$ 3 mil. O objetivo é incentivar o gosto pela leitura em universitários e contribuir para aprimorar a comunicação oral e escrita, habilidades muito exigidas em processos seletivos de estágio nas empresas. Mais informações e regulamento no site www.ciee.org.br.

* Elas não estão no dicionário

O Humor de Luiz Fernando Veríssimo brincando com com erros de grafias de alguns vocábulos:

Marulho - Barulho do mar.
Marmúrio - Barulho longínquo do mar.
Blaguette - Pão com formato engraçado.
Zerossímil - Que não se parece com nada.
Enfradonho - Padre chato.
Triglodita - Muito, muito primitivo.
Pubicidade - Propaganda erótica.
Aptosentado - Aposentado que ainda poderia estar trabalhando.
Faxixista - Fascista com incontinência urinária.
Amigdalomania - Mania de ter amígdalas maiores que as dos outros.
Pedofiló - Que tem tara por rendas.
Flaternidade - Solidariedade entre flatulentos.
Missantropria - Horror a misses.
Errodição - Conhecimento falho.
Luanático - Louco pela Luana Piovani.
Andrógenio - Gay muito inteligente.
Diabúlico - Demoníaco mas preguiçoso.
Enfético - Enfaticamente ético.
Apocalipizicato - O que ouviremos no fim do mundo.
Thrauma - Aflição por não poder pronunciar o "th" em inglês.
Cornocópia - Abundância de maridos traídos.
Prolotário - Trabalhador enganado.
Hipérbola - Diz-se de quem está jogando um bolão.
Biotique - Farmácia natural bem transadinha.
Epiquete - Como se comportar em manifestações.
Sobarba - Atitude de um adolescente quando começam a crescer os primeiros cabelos no rosto.
Pradar - Bolsa falsa para presente.
Jungamento - Análise baseada nas teorias de C. G. Jung.
Sigmund Fraud - Obviamente um impostor.
Fetichina - Obsessão pela China.
Tse-tsenami - Uma invasão de moscas.
Retólica - Discurso infantil.
Coorrupção - Corrupção em grupo.
Torrismo - A proliferação de prédios altos.
Onirrico - Quem sonha com muito dinheiro.
Decionário - Dicionários inconfiável.