quarta-feira, 30 de abril de 2014

* Um poema “censurado” por 20 séculos


Catulo
Pedicabo ego vos et irrumabo
(Gaius Valerius Catullus)

Se você não manja de latim, saiba que a frase acima é o primeiro verso de um poema considerado o “mais sujo escrito em qualquer idioma” e que demorou 20 séculos para que alguém se arriscasse a traduzi-lo por inteiro. Antes, em algumas partes do poema, o conteúdo era atenuado ou, simplesmente, cortado.
Trata-se de “Carmen 16” – também chamado de “Catulo 16” -, escrito pelo controverso poeta romano Caio Valério Catulo, que viveu no século 1 a.C., no final do período republicano. Ele pertencia a um grupo de poetas que queria romper com o passado literário romano, apelidado ironicamente por Cícero de “poetas novos”.
Ah, já ia me esquecendo. A tradução: “Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos”.
Obscenidades romanas
Essas “singelas” palavras de Catulo eram dirigidas a Marco Fúrio Bibáculo – poeta que teve um caso com seu namorado – e a Marco Aurélio Cota Máximo Messalino, cônsul na dinastia júlio-claudiana. Os dois acusavam os versos de Catulo de serem “suaves demais”. Ele, enfurecido pelas críticas, decidiu mostrar que conseguia fazer uma poesia mais pesadinha.
“Carmen 16” marcou a história da literatura pela longa censura e obscenidade, ao tratar temas que desafiavam o decoro e a moral romana. O poema serviu de inspiração, séculos depois, para autores como o americano T. S. Eliot e o francês Charles Baudelaire.
Leia a tradução completa do poema, realizada por João Ângelo Oliva Neto.
Catulo 16
Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos,
Aurélio bicha e Fúrio chupador,
que por meus versos breves, delicados,
me julgastes não ter nenhum pudor.
A um poeta pio convém ser casto
ele mesmo, aos seus versos não há lei.
Estes só tem sabor e graça quando
são delicados, sem nenhum pudor,
e quando incitam o que excite não
digo os meninos, mas esses peludos
que jogo de cintura já não tem
E vós, que muitos beijos (aos milhares!)
já lestes, me julgais não ser viril?
Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos.

Imagem: Catulo, retratado em uma pintura de Lawrence Alma-Tadema.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

* O livro digital "Recife Enxerido" traz ideias para uma cidade mais inteligente e circula na redes sociais


LOGO_ICE_CATRACAÉ possível que o Recife tenha um clima mais fresco, um trânsito menos caótico, mais espacos de visitação turística cultural. É possível que o Rio Capibaribe seja limpo e navegável. É possível que as ruas e avenidas sejam melhor ocupadas e bem divididas entre carros, ônibus, motos, ciclistas e pedestres.
Reprodução
Reprodução
Plataformas flutuantes distribuídas ao longo do Capibaribe, para estreitar a relação dos moradores com o rio.
Foi justamente para dizer como tudo isso (e muito mais) pode ser feito na prática para tornar a capital pernambucana uma cidade melhor, que o arquiteto e urbanista César Barros escreveu o livro digital “Recife Enxerido”.
A publicação pode ser lida na internet e traz 272 páginas com os planos e sonhos do arquiteto para a cidade. As ideias trazem sugestões de como melhorar a vida do Recife em aspectos que vão desde plantar mais árvores para diminuir o calor, passam por um redesenho de vias movimentadas da cidade e chegam até como valorizar o patrimônio histórico presente na arquitetura recifense.

A intermodalidade como guia, permite que todo o território da ILHA, seja utilizado de várias formas, onde a partir de suas calçadas e vias, integre-se com o entorno imediato, assim como com as estruturas viárias metropolitanas.
O projeto garante a qualidade da ambiência urbana, desde os passeios sombreados, à hierarquização viária, onde o pedestre é o protagonista e os meios motorizados trafegam em total harmonia.
Estabelecemos a predominância do uso misto, tirando partido de projetos e construções compactas, criando uma gama de oportunidades com diversidade de atividades e grande presença de áreas dadas aos pedestres, preservando os espaços abertos, a beleza natural e as áreas ambientais críticas, com padrões urbanísticos que territorialmente se integrem com o contexto existente.
Uma possível cultura, com uma nova abordagem para o enfrentamento de um mundo urbano que se apresenta e necessita de novos paradigmas. Podemos assim, possibilitar a comunicação e otimização das práticas criativas fundamentais para uma cidade inteligente.
O uso homogêneo de toda a área trará de volta a dinâmica urbana perdida, possibilitando a absorção de novos usos e atividade sem a preocupação setorizada que existe no zoneamento atual. Dessa forma, teremos uma pujança permanente distribuída uniformemente por todo o tecido urbano da Ilha.
Reprodução
Reprodução
Arquiteto redesenhou a Avenida Conde da Boa Vista. Seria um sonho muito alto?Nos planos de César Barros a Avenida Conde da Boa Vista, por exemplo, viraria um corredor arborizado, com calçadas elevadas, veículo leve sobre trilhos e ciclovias. Parece um sonho? Sim, mas antes de a realidade aconteceralguém precisa sonhar.
O livro é dividido em 10 tópicos que versam principalmente sobre as maneiras de devolver a cidade a quem vive nela. Uma cópia da publicação foi entregue ao prefeito Geraldo Julio.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

* PIB, conceito ultrapassado

Indicador alternativo desafia ideia essencial ao capitalismo, ao sugerir que riqueza monetária não equivale a bem-estar. Novos critérios surpreendem



por Ladislau Dowbor 


A divulgação da pesquisa sobre Indicadores de Progresso Social 2014 (IPS) [leia orelatório principal, o resumo e a metodologia] vem agregar peso à transformação de como calculamos os resultados econômicos e o desenvolvimento. Sem ser economistas ou entender de contas nacionais, muitos já se perguntam há tempos como casam no Brasil os imensos avanços sociais e econômicos que vivemos, além um desemprego que é o menor da história, com taxas modestas de crescimento PIB, tão atacado como “pibinho”. É que a cifra que tanto encanta a mídia, o PIB, simplesmente não mede o que queremos medir, que é o progresso, ou em todo caso o reflete de maneira muito parcial.
A iniciativa da ONG Social Progress Imperative é um refresco, ao medir o que importa, ao fazê-lo de maneira sistemática, com metodologia clara e que permite comparabilidade. Depois da edição experimental e limitada de 2013, a de 2014 cobre 132 países, com correções e ajustes. Publicada em dois volumes, um de resultados e análises por país, e outro de metodologia, a pesquisa constitui um aporte significativo para a compreensão das transformações que vivemos.
É verdade que esta iniciava vem apenas reforçar metodologias como o Happy Planet Index, o Genuine Savings Indicators, o FIB (Felicidade Interna Bruta) e sobretudo o movimento Beyond GDP na União Européia. Mas a contribuição de nomes como Michael Porter, da Universidade de Harvard e de outras instituições de peso, vai materializando a nossa lenta evolução para medidas que façam sentido. O apelo mundial para irmos além do PIB, lançado neste sentido há alguns anos por Joseph Stiglitz, Amartya Sen e Jean-Paul Fitoussi, dos quais os autores do IPS se declaram devedores, está dando frutos.
O teórico da iniciativa, Patrick O’Sullivan, vai direto ao assunto: “É realmente indefensável continuar a usar o PIB como se de alguma forma medisse o bem estar, e é confortante se dar conta que o próprio Kuznets, o pai fundador da medição sistemática do PIB, já nos tenha alertado que “o bem-estar de uma nação dificilmente pode ser inferido da medida da renda nacional” (Met.26) Este ponto de partida define a filosofia do esforço empreendido.
“Tornou-se cada vez mais evidente que um modelo de desenvolvimento baseado apenas no desenvolvimento econômico é incompleto. Uma sociedade que deixa de assegurar as necessidades básicas, de equipar os cidadãos para que possam melhorar a sua qualidade de vida, que gera a erosão do meio ambiente, e limita as oportunidades dos seus cidadãos não é um caso de sucesso. O crescimento econômico sem progresso social resulta na falta de inclusão, descontentamento, e instabilidade social. Um modelo mais amplo e mais inclusivo de desenvolvimento requer novas medições, com as quais os que gerem as políticas e os cidadãos possam avaliar a performance nacional. Temos de ir além de simplesmente medir o Produto Interno Bruto per capita, e tornar a medição social e ambiental parte integrante de como medimos os resultados”.(11)
Este enfoque permite organizar os indicadores em torno aos interesses reais das pessoas. O índice, no seu conjunto, busca responder a três questões: (26)
  1. O país assegura as necessidades mais essenciais da sua população?
  2. Os fundamentos básicos que permitam aos indivíduos e às comunidades alcançar e sustentar o seu bem estar estão assegurados?
  3. Há oportunidades para todos os indivíduos alcançarem os seus plenos potenciais?
Para nós no Brasil este enfoque menos centrado no crescimento econômico e diretamente dirigido ao bem estar da população é de uma grande ajuda. Em torno a estes três grandes eixos, o IPS apresenta indicadores básicos, quatro por eixo, que são por sua vez desdobrados em 54 indicadores mais detalhados. Conseguiram cifras razoavelmente confiáveis para 132 países, o que torna o IPS um complemento útil inclusive para o sistema básico das Nações Unidas, os Indicadores do Desenvolvimento Humano (IDH), que acrescenta aos dados tradicionais da renda indicadores de educação e de saúde.
Um outro elemento metodológico importante é que o IPS busca indicadores de resultados, não de insumos (outcome index, not inputs). Ou seja, um país que investe muito em saúde construindo hospitais de luxo e priorizando a saúde curativa, em termos de investimentos está realizando um grande esforço (inputs), mas os resultados (outcomes) serão pífios em termos de população saudável. E se trata de medir este último objetivo.(Met.5) A cidade de São Paulo gastou rios de dinheiro em viadutos, túneis, elevados e automóveis particulares com o resultado de paralisar a cidade. Esta paralisia, ao gerar mais custos para todos (inputs), aumenta o nosso PIB. Seguramente não o outcome queremos, que é a mobilidade urbana. Medir pelo enfoque dos resultados é muito importante.
Em termos metodológicos ainda, é natural que haja discussões sobre a objetividade na escolha dos indicadores. Patrick O’Sullivan (Universidade de Grenoble e de Varsóvia) apresenta aqui, no volume de Metodologia, um excelente artigo teórico sobre os indicadores e os seus limites. Os vieses são honestamente assumidos: “Vamos assumir abertamente que esta posição (do relatório) apoia-se em fundamentos que constituem certos juízos de valor normativos, que deixaremos explícitos e transparentes, e mostraremos, por mais chocante que este uso explícito de um discurso normativo possa parecer, a pesquisadores de ciências humanas orientados para o positivismo, que na realidade toda ciência humana é irremediavelmente carregada de valores de qualquer modo.” (Met. 25)
No Brasil, este realismo quanto aos valores implícitos, apoiado nas visões de Gunnar Myrdal, nos ajudaria bastante, frente à deformação sistemática das análises sobre os avanços do país na mídia comercial. Mas este alerta deve ser observado inclusive para os dados do IPS: por exemplo, os dados relativos à propriedade privada são, neste relatório baseados na fonte da Heritage Foundation, um Think Tank da velha direita norte-americana, que seguramente consideraria a nosso Constituição, com a sua visão da função social da propriedade, como subversiva. O enfoque adotado, por exemplo, permite jogar para baixo o IPS da China, que é o país que de longe tirou mais pessoas da pobreza no planeta – cerca de dois terços da redução mundial. Aqui a carga de valores é realmente explícita.(106)
Os resultados da pesquisa
Na parte da análise dos resultados, uma das tendências mais interessantes mostra uma forte correlação entre o aumento do PIB e a melhoria na área das necessidades básicas, (no caso nutrição, água e saneamento, habitação e segurança) mas apenas para os mais pobres: “As necessidades humanas básicas melhoram rapidamente quando o PIB per capita aumenta, nos níveis baixos de renda, mas depois (a tendência) se torna mais horizontal (flattens out) à medida que a renda continua a aumentar”. (54)
Para nós isto é muito importante, pois mostra que o aumento de renda nos extratos mais pobres melhora radicalmente o progresso social em geral. Em outros termos, o dinheiro que vai para a base da sociedade é muito mais produtivo em termos de resultados para a sociedade, o que bate plenamente com as pesquisas do IPEA sobre a produtividade dos recursos. As pesquisas da ONU sobre o IDH chegam à mesma conclusão: “Rendimentos mais elevados têm uma contribuição declinante para o desenvolvimento humano”. O New Economics Foundation (NEF) de Londres chega à mesma conclusão, ao analisar o “retorno social sobre o investimento” (SROI – Social Return On Investment), e considera que a adoção desta metodologia “é particularmente oportuna quando as organizações estão buscando tornar cada libra render o máximo possível”. (NEF, 2009) Estamos aqui no centro do problema da baixa produtividade econômica gerada pela concentração de renda, confirmando os efeitos multiplicadores que gera a redistribuição, inclusive para o próprio PIB.
Centrar-se no progresso social, ou seja, no resultado que queremos efetivamente para a nossa vida, e não no PIB, permite por sua vez evitar deformações flagrantes que o IDH atenua apenas em parte. Assim países exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita, o Kuait e Angola, que pela exportação de recursos naturais aparecem com uma renda per capita elevada, mas não asseguram o bem estar que estes recursos deveriam gerar para a população, são aqui avaliados de maneira diferenciada, como under-performers,ou seja, países com um crescimento distorcido. Por outro lado, constata-se a alta correlação entre o PIB e o indicador de acesso à informação e comunicação, “amplamente baseado no fato que o acesso à telefonia móvel e à internet está ligada à capacidade aquisitiva do consumidor”.(59)
Para nós esta dimensão é importante para pensar e contabilizar a contribuição das exportações primárias: qual é a sua produtividade social real, em termos de geração de empregos, de impactos ambientais, de retenção ou expulsão de mão de obra para as cidades como por exemplo no caso da pecuária extensiva? A visão geral do relatório é que “de modo geral, países ricos em recursos têm mais propensão a ter uma baixa performance em termos de progresso social, relativamente ao seu PIB per capita”.(53)
Na análise igualmente, o texto apresenta uma forte correlação entre os indicadores IPS e outras pesquisas baseadas em avaliações de percepção de qualidade de vida pelas pessoas: “Há uma relação altamente positiva e significativa entre a satisfação com a vida e o progresso social, e em particular na dimensão de Oportunidades.” (69) Outro dado significativo é que “o indicador de sustentabilidade ambiental é o que menos está relacionado com o PIB.” Os indicadores médios indicam uma forma de “U”, sugerindo que os pobres ainda não afetam o meio ambiente, enquanto os países na fase média de avanço econômico tendem a deteriorá-lo, passando a buscar a sua recuperação ao alcançar níveis de renda mais elevados. (59)
O Brasil na pesquisa
O Brasil aparece bem na foto. Importante lembrar que se trata apenas de uma foto, pois o índice é novo e não permite comparação no tempo, ou seja, a dinâmica da mudança. De qualquer forma, vale a pena dar uma olhada nos dados.
O Brasil ocupa o 46º lugar entre 132 países, com um índice médio geral de 69,957. A Colômbia ocupa o 52º lugar, México 54º. O PIB per capita brasileiro utilizado na pesquisa é de 10.264 dólares em valores de 2012. Os dados sintéticos para o Brasil são os seguintes:

Dados Sintéticos
Brasil (46º)
EUA (16º)
Argentina (42º)
PIB per capita (US$)
10.264
45.336
11.658
Score médio geral
69,957
82,77
70,59
Necessidades básicas
71,09
89,82
77,77
Fundamentos do Bem-estar
75,78
75,96
70,62
Oportunidades
63,03
85,54
63,38

Para ter uma referência, os Estados Unidos ocupam o 16º lugar, com um PIB de 45.336 dólares, e um índice médio geral de 82,77. Os dados sintéticos norte-americanos são muito desiguais, com respectivamente 89,82 para necessidades básicas, 75,96 para fundamentos de bem estar (praticamente iguais ao Brasil), fruto dos últimos trinta anos de neoliberalismo naquele país, e 85,54 em termos de oportunidades – índice puxado em particular pela expansão do acesso à educação superior, onde o Brasil é, pelo contrário, muito fraco. A Argentina, por sua vez, que ocupa o 42º lugar, tem um score geral de 70,59, um PIB per capita de 11.658 dólares, e apresenta no geral índices parecidos com os do Brasil. Detalhando um pouco para os 12 principais grupos de indicadores, temos a situação seguinte:
Nível dos 12 principais indicadores
Brasil
EUA
Argentina
Nutrição e cuidados básicos de saúde
92,02
97,82
94,62
Água e saneamento básico
81,64
95,77
95,65
Habitação
73,20
87,99
60,75
Segurança pessoal
37,50
77,70
60,07
Acesso ao conhecimento
95,43
95,10
94,53
Acesso à informação e comunicação
67,69
81,33
69,54
Saúde e bem estar
76,05
73,61
70,56
Sustentabilidade
63,94
53,78
47,83
Direitos da pessoa
74,94
82,28
66,55
Liberdade pessoal
69,38
84,29
73,61
Tolerância e inclusão
61,77
74,22
64,53
Acesso à educação superior
38,09
89,37
48,83
Impressionante os Estados Unidos, com um PIB quatro vezes e meia maior do que o Brasil, terem um indicador de saúde e de bem estar (esperança de vida, morte por doenças entre 30 e 70, taxas de obesidade, mortes por poluição do ar, taxa de suicídios) significativamente pior do que o Brasil. Situação pior ainda em sustentabilidade, devido em particular à massa de emissões de gazes de efeito de estufa, uso da água além das reservas e redução de biodiversidade e habitat natural. A Argentina, aliás, fica pior ainda neste quesito. Os itens críticos para o Brasil, naturalmente, são os de segurança, com 37,50 pontos, e de acesso à educação superior, com 38,09 pontos.
Na análise dos autores, “entre os países dos BRICS, o Brasil apresenta o perfil de progresso social mais forte e mais “equilibrado” (the strongest and most “balanced”). Apresenta alguma fraqueza em Necessidades Humanas Básicas (puxada pelo score muito baixo de 37,50 para Segurança Pessoal), mas apresenta uma performance consistentemente boa em todos os componentes tanto dos Fundamentos de Bem Estar como de Oportunidades, com exceção de Educação Superior (38,09, 76º).”(50)
Comparando com o conjunto dos BRICS, o relatório considera que “quatro dos cinco BRICS fazem parte do quarto nível, inclusive Brasil (46º) com um score de 69,97, África do Sul (69º) com 62,96, Rússia (80º) com 60,79, e China (90º) com 58,67. A Índia fica fora dos 100 primeiros em termos de progresso social, com um score mal superando 50. Os países da América latina estão bem representados no quarto grupo. Argentina 42º, Brasil 46º, e Colômbia, México e Peru colocados nos lugares 52º, 54º e 55º respectivamente”.(45)
No plano propositivo, ao comentar o Brasil, a análise sugere que “apesar do Brasil apresentar uma performance relativamente boa no componente Sustentabilidade do Ecossistema, precisa enfrentar questões ambientais urgentes, tais como a redução do desmatamento essencialmente frutos da especulação sobre o solo, da pecuária irregular, e de projetos de infraestruturas; o controle dos gases das emissões de gases de efeito estufa pelo setor industrial; e o acesso à eletricidade com tecnologias eficientes em termos de custos e ambientalmente amigáveis. |O Brasil tem cerca de um terço das florestas tropicais do planeta e pelo menos 20 por cento da biodiversidade do planeta. #Progresso Social Brasil tem focado os seus esforços iniciais na região amazônica.”(36)
Os dados completos por país estão nas páginas 85 e seguintes do relatório principal. Vejam a tabela geral dos indicadores utilizados, disponível na p. 28 do relatório principal:
140408-TabelaLadislau

Notas
: No texto acima, colocamos entre parênteses as páginas do relatório principal, e quando se trata do volume sobre metodologia, colocamos o número da página com a menção “Met.” Os links dos documentos originais estão abaixo. Para se documentar quanto às novas metodologias veja no blog http://dowbor.org o artigo O Debate sobre o PIB.
NEF – New Economic Foundation, “Social Return on Investment”http://www.neweconomics.org/blog/entry/a-turning-point-for-new-indicators-of-progress
Ladislau Dowbor é professor de economia nas pós-graduações em economia e em administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e consultor de várias agências das Nações Unidas. Seus artigos estão disponíveis online em http://dowbor.org

* Dois pernambucanos entre os vencedores do Prêmio Brasília de Literatura

José Luiz Passos e Samarone Lima estão entre os melhores livros do ano segundo o concurso, vinculado à Bienal Brasil do Livro e da Literatura


José Luiz Passos foi o vencedor entre os romances / Foto: Fernanda Fiamoncini/Divulgação

José Luiz Passos foi o vencedor entre os romances

Foto: Fernanda Fiamoncini/Divulgação

O 2º Prêmio Brasília de Literatura anunciou no ínicio da tarde desta quarta (9/4) o seu resultado. Vinculado à Bienal Brasil do Livro e da Literatura, o concurso elegeu dois ligados a Pernambuco entres os autores dos melhores livros de 2013: José Luiz Passos e Samarone Lima. O prêmio concede R$ 30 mil para o melhor livro de cada gênero, além de R$ 10 mil para os segundo lugares, em um total de R$ 320 mil.
José Luiz Passos teve o seu romance, O sonâmbulo amador, escolhido como melhor na sua categoria. A narrativa apresenta Jurandir, um funcionário público que se recupera de um surto em um hospício enquanto anota suas memórias e sonhos num diário. Foi a segunda obra de ficção de Passos, que foi premiado também como livro do ano pelo Portugal Telecom.
O aquário desenterrado, segunda obra em versos de Samarone Lima, também está entre os relacionados na categoria de poesia. O livro foi o segundo, ficando atrás de Mirantes, de Roberval Pereyer. Samarone já havia sido indicado pelo seu trabalho em poesia como um dos finalistas do Prêmio Jabuti, com a caixa contendo A praça azul e Tempo de vidro.
Confira todos os vencedores das oito categorias do prêmio:
Romance: 1º O sonâmbulo amador, de José Luiz Passos, e 2º O peso da luz -  Einsten do Ceará, de Ana Miranda
Poesia: 1º Mirantes, de Roberval Pereyer, e 2º O aquário desenterrado, de Samarone Lima
Contos: 1º A verdadeira história do alfabeto, de Noemi Jaffe, e 2º Garimpo, de Beatriz Bracher
Crônicas: 1º Nu, de botas, de Antonio Prata  e 2º Labirinto da palavra, de  Cláudia Lage
Reportagem: 1º Jango: a vida e morte no exílio, de Juremir Machado da Silva, e 2º As duas guerras de Vlado Herzog, de Audálio Dantas
Biografia: 1º Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães, e Getúlio 1930-1945, de Lira Neto
Infantil: 1º Lá no fundo do peito, de Mauro Martins, e 2º A fome do lobo, de Cláudia Maria de Vasconcellos
Juvenil: 1º Marcéu, de Marcos Bagno, e 2º As gêmeas da família, de Stella Maris Rezende 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

* Três livros antigos da biblioteca de Harvard foram encapados com pele humana

Foto: Harvard University
Há algo de diferente em grandes bibliotecas: os sussurros para não atrapalhar a leitura, o cheiro dos livros antigos e empoeirados. São detalhes capazes de criar uma atmosfera peculiar. Mas alguns livros da biblioteca de Harvard são campeões no quesito peculiaridade: pelo menos três obras raras da universidade norte-americana são encapados com pele humana.
Alguns anos atrás, alguns estudiosos de editoração notaram algo diferente na encadernação desses livros. O couro das capas era diferente do usual. Um estudo mais aprofundado descobriu o motivo da textura lisa e macia da capa dessas obras: os livros tinham sido encapados com pele humana. O mais assustador é que em um dos casos, a pele foi retirada enquanto a pessoa ainda estava viva.
A prática não era incomum durante o século XVII e recebia o nome de bibliopegia antropodérmica. Muitos livros de anatomia e medicina eram encapados assim: presume-se que a matéria prima para encapar os livros era obtida de cadáveres. Ou seja, um livro sobre anatomia e a ciência da vida e da morte era feito de restos humanos. É interessante pensar como uma prática dessa acontecia cerca de 300 anos atrás. (vi no Distractify)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

* Freud e a Guerra de 1914

Ensaio pungente sobre conflito sangrento é lembrado e analisado por cientista político na CH. Interpretação freudiana destaca uma fratura irreparável no processo civilizador.

Por: Renato Lessa
Publicado em 03/04/2014 | Atualizado em 03/04/2014
Freud e a Guerra de 1914
‘Considerações atuais sobre a guerra e a morte’ foi escrito por Freud quando a Guerra de 1914 já revelara marcas que o tornariam muito distinto dos que o precederam. (foto: Wikimedia Commons – CC BY 2.0)
Os 100 anos da deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) dão hoje ensejo a reflexões tanto acerca dos fatores que a provocaram quanto sobre as implicações civilizatórias por ela legadas. Muito se escreveu a respeito, mas uma das interpretações mais instigantes da Guerra de 1914 foi produzida, no calor da hora, por Sigmund Freud (1856-1939), em ensaio pungente: Considerações atuais sobre a guerra e a morte, escrito em 1915, quando o conflito já revelara marcas que o tornariam tão distinto dos que o precederam. 
É justamente esse juízo – a originalidade da Grande Guerra – que compõe o núcleo do argumento de Freud.
A releitura da interpretação freudiana permite o reencontro com um poderoso argumento a respeito da ideia mesma de civilização, necessário ao entendimento dos fatores que determinaram o colapso desta.
Mais do que da guerra, como episódio geopolítico ou militar, Freud trata das vicissitudes do processo civilizador, que teria sofrido fratura irreparável
Mais do que da guerra, como episódio geopolítico ou militar, Freud trata das vicissitudes do processo civilizador, que teria sofrido fratura irreparável. A Guerra de 1914, segundo especialistas na arte militar, marcou a passagem de um padrão, digamos, civilizado, em que o teatro das operações bélicas mantinha-se segregado do conjunto das rotinas sociais, para uma perspectiva da guerra total, na qual nada menos que o aniquilamento – ou ao menos a sujeição brutal – do oponente aparece como horizonte desejado.
Tal separação apresentava-se, por exemplo, na distinção entre combatentes e não combatentes e na presença de uma ética militar cavalheiresca, que fazia com que soldados, embora em exércitos opostos, fossem tomados como parte de uma mesma sociedade, maior e supranacional, dotada de regras de contenção da própria letalidade da guerra. 
É claro que parte considerável dessa ‘ética da guerra’ já havia sido maculada antes. As batalhas da guerra civil norte-americana, e as que opuseram exércitos coloniais a populações aborígenes, exibiram pouco ou nada do espírito das guerras civilizadas. 
A Guerra de 1914, porém, trouxe para o cenário europeu, sede do processo civilizador, a experiência com o ilimitado da carnificina, imposta com frequência a povos não europeus, ao longo do tempo. Trouxe, em outros termos, o experimento da incivilidade da guerra.
Freud
Para Freud, a Grande Guerra é, antes de tudo, a vivência do abismo de uma forte desilusão, que decorre da perda de sentido do processo civilizador. (foto: Wikimedia Commons – CC BY 2.0)
Para Freud, a Grande Guerra é, antes de tudo, a vivência do abismo de uma forte desilusão. Tal sensação decorre da perda de sentido do processo civilizador e de suas escoras fundamentais: “uma enorme restrição de si mesmo, uma larga renúncia da satisfação instintual”, ambas materializadas em prescrições morais – “frequentemente severas demais” – sobre os indivíduos. 
As implicações de tal ‘severidade’ constituem um dos objetos preferenciais da escritura e da clínica de Freud. Seu clássico ensaio ‘O mal-estar na civilização’ fixaria, em 1930, os termos da tensão entre vida instintual e imposições da vida cultural.
Antes, em 1915, Freud fala-nos da quebra civilizacional da guerra, por meio do transbordamento dos instintos, mal contidos por um padrão de ‘hipocrisia cultural’, no qual os hábitos civilizados operam como débil e insuficiente camada protetora contra danos entre os indivíduos. 
A hipocrisia cultural decorre, com certeza, da pesada carga de contenção e repressão imposta pelo processo civilizador a indivíduos portadores de pulsões. A aptidão cultural, contudo, não é afetada apenas pela vida pulsional. O próprio ‘Estado civilizado’ nos fornece estímulos para a inaptidão: ele pratica nos campos de batalha – e contra os ‘inimigos’ – aquilo que proíbe expressamente a súditos seus. 
Freud revela, assim, uma das principais facetas do Estado, a de buscar exercer o monopólio legítimo da injustiça.
Renato Lessa
Fundação Biblioteca Nacional
Texto originalmente publicado na CH 312 (março de 2014).

quinta-feira, 20 de março de 2014

* A Dádiva de Viver


Por vezes, você caminha pela vida com o olhar voltado para o chão, pensamento em desalinho, como quem perdeu o contato com sua origem divina
Olha, mas não vê...
Toca, mas não sente...
Escuta, mas não ouve...
Perdido na névoa densa que envolve os próprios passos, não percebe que o dia o saúda e convida a seguir com alegria, com disposição, com olhar voltado para o horizonte infinito, que lhe acena com o perfume da esperança.
Considere que seu caminhar não é solitário e suas dores e angústias não passam despercebidas diante dos olhos atentos do Criador, que lhe concede a dádiva de viver.
Sua vida na terra tem um propósito único, um plano de felicidade elaborado especialmente para você. Por isso, não deixe que as nuvens das ilusões e de revoltas infundadas contra as leis da vida, tornem seu caminhar denso e lhe toldem a visão do que é belo e nobre.
Siga adiante refletindo na oportunidade milagrosa que é o seu viver.
Inspire profundamente e medite na alegria de estar vivo, coração pulsante, sangue correndo pelas veias, e você, vivo, atuante, compartilhando deste momento do mundo, único, exclusivo. E você faz parte dele.
▬ Sinta quão delicioso é:
O cheiro da grama,
Da terra após a chuva,
O aroma do amanhecer,
Da chuva a rolar sobre sua face,
Do calor do sol sobre a sua cabeça.
Sinta o imenso prazer de estar vivo, de respirar. Respire forte e intensamente, oxigenando as idéias, o corpo, a alma. Sinta o gosto pela vida.
Detenha-se a apreciar as pequeninas coisas que dão sentido à vida. Aquela flor miúda que, em meio à urze sobrevive linda, perfumosa, a brilhar como se fosse grande.
Sinta-se vivo ao apreciar o vôo da borboleta ou do pássaro à sua frente. Escute os barulhos da natureza, a água a escorrer no riacho, ou simplesmente aprecie o céu, com suas nuvens a formar desenhos engraçados fazendo e desfazendo-se sobre seus olhos.
▬ Quão maravilhosa é a vida!
Mas, se o céu estiver escuro e você não puder olhá-lo, detenha-se no micro universo, olhe o chão. Quanta vida há no chão...
Minúsculos seres caminhando na terra, na grama... A formiga na sua luta diária pela sobrevivência... A aranha, a tecer sua teia caprichosamente, e tantas coisas para ver, ouvir, sentir, cheirar, para fazer você sentir-se vivo.
Observar a natureza é pequeno exercício diário que fará você relaxar.
▬ Esquecer por instantes as provas:
Ora rudes,
Ora amenas,
Que a vida nos impõe.
Somos caminhantes da estrada, somando, a cada dia, virtudes às nossas vidas ainda medíocres, mas que se tornarão luminosas e brilhantes.
Aprenda a dar valor à dádiva da vida. Isso fará o seu dia se tornar mais leve e, em silêncio, sem palavras, sem pensamentos de revolta, você terá tido um momento de louvor a Deus.
Aprenda a silenciar o íntimo agitado e a beneficiar-se das belezas do mundo que Deus lhe oferece.
A sabedoria hindu aprecia, na natureza, o que Deus desejou para ela: que fosse aliada do homem no seu progresso, oferecendo o alimento, dando-lhe os meios de defender-se das intempéries.
E, sobretudo, sendo o seu colírio diário suavizando as aflições da vida.
Felicidade é a certeza de que nossa vida não está se passando inutilmente. 

Érico Veríssimo.