domingo, 17 de julho de 2011

* EU NÃO TENHO COR


Eu não tenho cor;
Eu tenho identidade.
Eu busco a liberdade,
...Desde os meus antepassados.
Constantemente açoitados,
Sofrendo sem merecer.
A cada amanhecer
Vivendo no fio da esperança.
E hoje, que seria a bonança,
Eis que o preconceito domina.
Até parece uma sina,
Viver sob o julgamento;
Tratado como escremento
De uma sociedade.
O mapa da crueldade,
Assolando noite e dia,
No tom da hipocresia,
Vagando pela história.
Alastra-se na memória,
O rótulo maldoso.
Caminho venenoso
Que parece nunca findar
Mas vale a pena lembrar
Do rei Zumbi dos Palmares,
Que fez ecoar pelos ares
O gosto da libertação.
O anseio por revolução,
A luta tão verdadeira.
Salve a capoeira,
O jongo e sua dança;
Salve toda a festança
Dos ritos do maracatu.
Salve o gonguê, o Ilu,
Cortejos pedindo espaço
Beleza da Dama do Paço
Respeito ao candomblé
Os rituais do afoxé
Derrubando o preconceito.
Só revendo conceito
Vale a pena ser feliz.
Salve São Luís,
Tambor de crioula em evidência.
Salve toda a essência
Dos tambores do Rio de Janeiro.
Tambores em solo mineiro,
Muzenza ensurdecedor,
Nas ruas de Salvador,
Tom religioso e profano.
Batuque pernambucano
No som do Leão Coroado
Alfaias no Baque-Virado
Batida afinada e guerreira.
Olinda subindo a ladeira
Também com sua rotina
Salve o tambor de Mina
Quilombos de todo o Brasil
De um povo que construiu
A luta contra a peçonha
Salve o negro que não se envergonha
De sua tão bela estrutura
E que nessa vida tão dura
Vive com dignidade
Derruba a ansiedade
Dizendo com todo o vigor
“Eu não tenho cor.
Eu tenho IDENTIDADE!”


(André Agostinho)

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