segunda-feira, 8 de julho de 2013

* 8 de Julho aniversário de Hermilo Borba Filho!

Hoje, 8 de Julho, data do aniversário de nascimento de Hermilo Borba Filho, nascido no Engenho Verde (um dos poucos patrimônios culturais ainda existentes no Município, que será destruído pela Barragem construída pelo Governo do Estado de Pernambuco), em Palmares - PE.
E Palmares está  em festa promovida pelo Governo Municipal, após vários anos sem assessorias antecessoras lembrar desta data.
Mas embora Hermilo sendo artista dramaturgo, contista, novelista e romancista, hoje a data será marcada no Cinema Theatro Apolo com um Concerto (é a vez dos músicos). 
Incoerências à parte, eis uma data meritória para comemorar! Torna-se necessária essa ação de lembrar datas. 
Esse grande intelectual palmarense merece destaques por sua genialidade e pela construção cultural nordestina brasileira que ele representa.
Em Palmares há quem confunda e fale sobre Hermilo como poeta! Ainda há equívocos. Por mais que se tente educar e informar, os esforços dos promotores culturais ainda não são suficientes!
Entrei em contato com a obra de Hermilo Borba Filho, pesquisando nos arquivos da Biblioteca Pública Municipal Prof. Fenelon Barreto (reminiscente da Biblioteca do Clube Literário, onde Hermilo também obteve seus primeiros ensinamentos literários bebidos dos literatos membros da Instituição da sua época de infância e juventude). 
Encontrei na Biblioteca Pública citada um livro que me conquistou: DIÁLOGOS DE UM ENCENADOR. Eu, menino querendo teatralizar a vida e os pesares e desgostos da nossa gente. Li as peças teatrais de Hermilo, mesmo ouvindo várias críticas contra o escritor chamado ESCRITOR MALDITO porque utilizou a linguagem popular, retratando costumes da nossa gente e suas pornografias.
Eu gostei muito do livro DIÁLOGOS DE UM ENCENADOR e pedi emprestado o exemplar para copiar. Copiei datilografando página por página. E se transformou num tipo de ponto de apoio e orientação para a construção da minha linha de ação cultural teatral. Senti ao ler como ele era exigente, primando pela Ética na Arte.
Foi triste notar como livros raros sumiram daquela Biblioteca, assim como os livros de Hermilo. Os anos passando e eu chegava lá para reler os livros e não encontrava. 
Quando entrei em contato com a Atriz Geninha da Rosa Borges, ela me falou muito sobre Hermilo. A convivência dela com ele no TAP - Teatro de Amadores de Pernambuco e em outras ações culturais. Ela contou como a memória de Hermilo Borba Filho era fenomenal e como ele era um poliglota muito estudioso (tradutor de várias obras literárias best-sellers mundiais). Ela falava fluentemente: inglês, francês, espanhol, alemão...
Hermilo Borba Filho no Cinema
Theatro Apolo - Palmares - PE.
Geninha contou que Hermilo a convidou para vir a Palmares para uma pesquisa sobre Mamulengos. Ele publicou um livro sobre o assunto. Era um pesquisador sobre as expressões culturais da nossa gente.
Em 1990 Geninha da Rosa Borges me mostrou um livro sobre teatro que Hermilo Borba Filho a presenteou quando ele voltou de uma viagem à França. Tinha um oferecimento escrito por Hermilo para ela. }Achei o livro lindo, com fotos de cenas de peças teatrais daquela época, com atores que fazem parte da História da Encenação Mundial. Ao ver minha fisionomia ao folhear as páginas daquele livro, ela me presenteou o exemplar. Fiquei muito emocionado e guardava o livro com muito carinho. Infelizmente foi destruído pela enchente de 2000 quando não deu tempo retirar os arquivos do GRUCALP do prédio da Antiga Cadeia de Palmares, onde o nosso Centro Cultural funcionava (eu doei o livro para os arquivos do GRUCALP).
Através de Geninha da Rosa Borges, tive contato com
Rubem Rocha Filho (saudoso amigo que já se foi para o mundo dos anjos). Rubem foi trazido para Recife a convite de Hermilo. Rubem tinha sido premiado e passado um tempo nos Estados Unidos. E não quis mais sair do Recife, confidenciou que se apaixonou pela capital pernambucana e assim Pernambuco adotou um talentoso ator, Diretor e dramaturgo, graças a um convite de Hermilo.
Geninha da Rosa Borges
Em 1990 Geninha e Rubem vieram a Palmares para comemorar o aniversário do GRUCALP e ministraram oficinas teatrais e relataram convivências com Hermilo Borba Filho. Contaram fatos das ações dele como Encenador.
Assisti palestras de Ariano Suassuna e de Marco Camarotti quando relataram sobre Hermilo Borba Filho. Ouvi também relatos de atores que conviveram com Hermilo, tais como Reinaldo de Oliveira, Dinah de Oliveira, Hugo Martins, João Denys Araújo Leite (meu grande amigo e ex professor de Caracterização)...
Um livro preciosíssimo sobre Hermilo Borba Filho que chegou em minhas mãos foi repassado pela FUNDARPE, em 1989: POR UM TEATRO DO POVO E DA TERRA (de autoria do Prof. Maurício Britto Carvalheira). E o autor deste livro veio a Palmares para ministrar oficina de teatro e proferir palestra.
Não sei como se espalhou a notícia de que eu não gostava de Hermilo Borba Filho. Boataria de gente invejosa. Eu desde criança admirava esse homem e desejava me aproximar dele e não tive oportunidade, não deu tempo porque foi retirado da Terra antes de eu ter autonomia para ir até ele materialmente.
Hermilo, um artista que não ficou em Palmares e nada construiu aqui, porém sua obra transpira a terra da qual ele nasceu.
Promovi leituras de peças teatrais de Hermilo em atividades do GRUCALP com jovens ávidos para aprender teatro durante oficinas que promovi. Mas nunca dirigi peça teatral de autoria dele. Quando quis encenar uma obra de Hermilo, ao chegar na Biblioteca Pública Prof. Fenelon Barreto não existia mais os textos dele lá...
Uma pessoa que muito conversou comigo sobre Hermilo Borba Filho, foi o primo dele, Lael Borba de Carvalho, amigo de muita estima da minha família. 
Uma frase que ficou famosa de autoria de Hermilo: PALMARES É A MARCA NA MINHA VIDA PARA SEMPRE.. Eu sempre digo que ele deveria ser uma marca na História de Palmares por ter construído ações locais, visto que morava pertinho, no Recife. Com minha rebeldia e questionamentos, eu afirmava que o artista deve marcar a terra onde nasce e não deixar ela ser uma marca na vida dele. 
Com certeza teriam jovens ávidos para aprender com ele, eu seria um desses. Mas as mágoas o afastaram daqui, mesmo expondo todo amor à Palmares em sua obra literária.

Vamos às informações sobre Hermilo Borba Filho (Palmares, 8 de julho de 1917 — Recife, 2 de junho de 1976) :


Filho de Hermilo Borba Carvalho e Irinéa Portela de Carvalho.
Hermilo foi aluno do Prof. Miguel Jasselli, com quem primeira vez atuou no palco. Prof. Miguel Jasselli tinha um grupo de teatro da Sociedade de Cultura dos Palmares, a qual foi fundador e se apresentava no Cinema Theatro Apolo.
O garoto de engenho que se mudou para a cidade para estudar, de Palmares foi para o Recife. Lá estudou Bacharado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, em 1950, porém nunca exerceu a advocacia.
Dedicou-se ao teatro e à literatura. Além de Dramaturgo, contista e romancista, se dedicou a traduzir obras literárias, arte e História. Colaborou com Revistas, escreveu críticas teatrais em jornais (excelente crítico de Artes). Escreveu também para os jornais recifenses Praieiro, Folha da Manhã, Jornal Pequeno, Diário da Noite, Diario de Pernambuco, Jornal do Commercio, Jornal da Cidade e para o Última Hora e Correio Paulista, publicados em São Paulo, além de fazer parte do conselho editorial do jornal semanal paulistaMovimento(1975), juntamente com o compositor Chico Buarque de Holanda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e o indigenista Orlando Vilas Boas.
Ocupou cargos na Prefeitura do Recife e na Universidade Federal de Pernambuco.
Mas a grande ação cultural dele foi junto com Ariano Suassuna, quando fundaram o Movimento Armorial. 
Foi para a França onde se juntou a Jean Villar e voltando a Pernambuco fundou o Teatro Popular do Nordeste (TPN), inspirado no grupo do teatrólogo francês, o Teatro Nacional Popular (TNP).
Trabalhou ao lado de José Carlos Cavalcanti BorgesGastão de HolandaAldomar Conrado, Leda Alves e Capiba.
Pelo envolvimento com o Movimento de Cultura Popular (MCP), junto com Paulo Freire, e sua simpatia pelo Partido Comunista, sofreu perseguição política. 

Muito premiado, Hermilo escreveu várias peças teatrais, contos, novelas e romances.  

Seguindo o modernismo, usou o vocabulário popular, retratando bem os costumes do povo. 

Romances:
A tetralogia Um cavaleiro da segunda decadência é considerada sua obra de maior importância. É composta por quatro romances: Margem das Lembranças (1966); A porteira do mundo (1967); O cavalo da noite (1968) e Deus no pasto (1972). Além desses é autor dos seguintes romances: Caminhos da solidão (1957); História de um Tatuetê, publicado pelo Gráfico Amador (1958); Sol das almas (1964); Agá (1974). É autor ainda dos contos O general está pintando (1973); Sete dias a cavalo (1975); As meninas do sobrado(1976) e da novela Os ambulantes de Deus (edição póstuma 1976).

 Peças Teatrais:
A felicidade foi sua primeira peça de teatro, encenada e dirigida por ele para a Sociedade de Cultura de Palmares, em 1935. O conto As pernas daquela moça reproduzido na revista Renovação, em 1941, foi seu primeiro texto publicado.Escreveu ainda as seguintes peças de teatro: Parentes de ocasião (1943);O presidente da República (1943); Soldados da retaguarda, em parceria com Valdemar de Oliveira (1944); O círculo encantado, tragédia (1944); Vidas cruzadas (1944); O vento do mundo (1948); João Sem Terra (1949); Cabra cabriola, para o teatro de mamulengo (1951); Noé, tragédia (1951); Os bailarinos (1951); Três cavalheiros a rigor (1953); A barca de ouro (1955);Apenas uma cadeira vazia ou Um paroquiano inevitável (1956); Electra no circo(1956); Nossa vida com mamãe (1957); O bom samaritano (1965); O cabo fanfarrão (1966); A donzela Joana (1966); As moscas (1969); Sobrados e mocambos (1972).


Como Diretor agiu nos grupos teatrais:


  • Companhia Nydia Lícia - Sérgio Cardoso
  • Companhia Cacilda Becker
  • Grupo Stúdio Teatral
  • Teatro Paulistano de Comédia.
  • Sociedade de Cultura de Palmares (1935)
  • Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP)
  • Teatro Universitário de Pernambuco (TUP)
  • Teatro Operário do Recife
  • Teatro do SESI
  • Centro de Comunicações do Nordeste (CECOSNE)
  • Teatro Popular do Nordeste
  • Teatro de Arena do Recife


Livros publicados:


  • Teatro. Recife: TEP, [19--?]. 406p.
  • Duas conferências: Teatro: arte do povo reflexões sôbre a mise-em-scène. Recife: Prefeitura Municipal, 1947. 46p. Em colaboração com Arruda Câmara e Jerônimo Gueiros.
  • Hermilo Borba Filho. História do Teatro. Rio de Janeiro: Ed. Casa do Estudante do Brasil, 1950
  • Teoria e prática do teatro: antologia. São Paulo: Agência Ed. Íris, 1960. 318p. Organizador.
  • Diálogo do encenador. Recife: Imprensa Universitária, 1964. 128p.
  • Sol das almas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 231p.
  • Apresentação do bumba-meu-boi. Recife: Imprensa Universitária, 1966. 174p. il. [21/99;
  • Arte popular do Nordeste. Recife: Prefeitura do Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 1966. 112p. il. Coordenador.
  • A donzela Joana: teatro. Petrópolis: Vozes, 1966. 127p. (Diálogo da Ribalta, 15).
  • Espetáculos populares do Nordeste. São Paulo: DESA, 1966. 168p. il. inclui bibliografia.(Buriti, 10).
  • Fisionomia e espírito do mamulengo: (o teatro popular do Nordeste). São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966. 295p. il. (Brasiliana, 332).
  • Um cavalheiro da segunda decadência: III – o cavalo da noite. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. 251p.
  • Orilla de los recuerdos: un caballero de la segunda decadência, I. [S.l.]: Ediciones de la Flor, 1969. (s.p.).
  • Cerâmica popular do Nordeste. Rio de Janeiro: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1969. 204p. il. (Folclore brasileiro, 4). Em colaboração com Alfredo Rodrigues.
  • Um cavalheiro da segunda decadência IV: Deus no pasto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. (s.p.).
  • Sobrados e mocambos: (uma peça segundo sugestões da obra de Gilberto Freyre nem sempre seguidas pelo autor). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. 167p.
  • O general está pintando: novelas. Porto Alegre: Globo, 1973. 136p. (Coleção sagitário).
  • Os ambulantes de Deus: novela. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976. 145p. (Coleção Vera Cruz, 221). [MAURO MOTA LIT – 1785]
  • As meninas do sobrado. Porto Alegre: Globo, 1976. 127p. [MAURO MOTA LIT – 1654]


Diretor de Teatro, Dramaturgo, Poeta, Romancista, Cronista e Teimoso Repórter.



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